A desventura do jovem galego
Procedente da Espanha, mais precisamente da Galícia, desembarcava no Rio de Janeiro o jovem de nome Eulógio, que fugindo do estado belicoso que a Europa se encontrava, resolveu por solicitação do amigo José, a convidá-lo a vir ao Brasil a trabalhar na sua marcenaria. Aqui então aportando, aliviou-se da tensão que o fustigou pelos longos dias de travessia do Atlântico. Afinal o temor e a preocupação em ser atingido por submarino alemão se evidenciava.
No píer da Praça Mauá, sem nada conhecer, sem se fazer entender por questões linguísticas, optou por permanecer no local. Todavia, após horas de angustia e incertezas, foi abordado por um policial que o encaminhou ao Departamento de Imigração, onde conseguiu se comunicar através de um intérprete e, após os trâmites legais, foi colocado num táxi pela imigração a encaminhá-lo ao endereço do amigo José, que o recebeu e pagou a corrida do veículo.
Passando a trabalhar como auxiliar e ajudante na marcenaria, Eulógio aos poucos, pela força de vontade, foi se desenvolvendo e não demorou a integrar-se a nova vida a passar a ser “Pau pra toda obra”. Com o decorrer do tempo, já dominava as tarefas da empresa, inclusive a selecionar as toras de madeira a serem utilizadas na confecção das peças dos mobiliários.
E assim cada vez mais laborioso tronou-se pessoa importante e confiável, a ponto de exercer a função em representar a empresa em algumas situações, embora o domínio da língua ainda se fizesse dificultosa, já que o espanhol da Galícia é um dialeto diferenciado e complicado bem diferente da própria língua mãe,
Certa feita, dada mensagem recebida dando conta de um carregamento de toras que havia chegado a Santos, oriundo de Goiás, mas pela impossibilidade do transporte marítimo por falta de cargueiros disponíveis, a administração do porto recomendava seguir via férrea e, como tal, necessitava à presença de um representante visando o despacho da mercadoria ao Rio de Janeiro.
Escolhido, Eulógio partiu levando todas as coordenadas a serem executadas no sentido de como chegar a Santos, baseado no roteiro férreo a ser seguido e o procedimento burocrático junto ao porto e a ferrovia sobre o fretamento da carga ao Rio de Janeiro.
Os dias se passavam e nada de notícias, quando chega à empresa um comunicado da Central do Brasil dando um prazo de 48:00hs à retirada do vagão das toras procedentes de Santos, bem como providenciasse o pagamento da fatura anexa visando à liberação do frete, sem o que permaneceria retida sujeita a multa pela permanência no parque ferroviário em São Diogo. Aquele comunicado deixou José preocupado. Onde estaria Eulógio? Porque não deu notícia? Será que aconteceu algo de grave?
A quase completar 20 dias de ausência, eis que surge na marcenaria; abatido, magro, de aspecto subnutrido, Eulógio, e passou a narrar o que ocorreu nesta desventura, a qual se meteu no que desembarcou a Estação da Luz em São Paulo. Em meio à agitação da gare, indo as bilheterias solicitou uma passagem ao “porto”.
De posse do bilhete que marcava o horário do trem em uma hora, encaminhou-se a plataforma de embarque e a hora marcada, acomodado ao vagão lá se foi o galego. Depois de horas de viagem com o corpo dando sinais de esgotamento, finalmente ia deixar o trem, no que ocorreu. Só que ao caminhar e deixar o local estranhou a não presença do mar e resolveu, com certa dificuldade, pela língua num dialeto galego, procurar informações sobre o mar e o porto.
Para sua surpresa estava a vários quilômetros do porto de Santos, pois se encontrava à cidade de “Porto Ferreira – SP”. Sem saber como agir, retornou a estação e o que conseguiu era pegar um trem para Campinas na manhã seguinte ou pegar um noturno a baldear a Ribeirão Preto.
Totalmente perdido em meio aquele caos que se encontrava, optou pelo transporte rodoviário e ainda foi pior e mais perdido ficou e cada vez mais distante do mar, que seria a atingir o destino. Assim seu tormento, diante de tantas agruras, tornou-se verdadeiro drama e sem ter como se comunicar, vez que não possuía o telefone da empresa; na época bem complicada em se fazer, o que levou o galego ao desespero.
Depois de dias perdidos em São Paulo, com o drama a torturá-lo, pois o dinheiro trazido já se escasseava, quando à cidade de Botucatu, com muita fome, dirigindo-se a um bar de nome Oviedo, é atendido por um senhor; o proprietário, que ao chegar a atendê-lo, notou tratar-se de um patrício. Identificando-se, após alimentar-se, contou sua história, que penalizado o homem sensibilizado lhe deu todo apoio para chegar a Santos, traçando toda a rota, o que aconteceu. Só que ao saltar do trem, vendo o mar, dirigiu-se ao porto. Mas para sua tristeza a carga já deveria pelo tempo estar no Rio de Janeiro, segundo o despachante portuário ligado a administração. Seguro de si, desta vez o jovem Eulógio retornou sem nenhuma dificuldade ao Rio de Janeiro.
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