A gorda e o pinguço
Agraciado que foi por um carpinteiro em Rio das Flores (RJ), pela oficialização da bela cerimônia de suas bodas de prata; com um genuflexório, padre Barbosa resolveu então, com permissão do artesão, doá-lo à sub-sede da arquidiocese em Valença, dada a precariedade existente numa orada da periferia. Por se tratar de um mobiliário de certo ponto pesado e volumoso, utilizou-se do trem misto da madrugada.
Embarcado às 6 horas com seu genuflexório, num canto do vagão, lá ia Barbosa atendendo alguns fiéis com sua benção a estender sua mão, quando mesmo sob o vozerio reinante, o cacarejar das galinhas, ronco dos porcos, canto dos pássaros às gaiolas entre outros não identificados, uma mulher gorda sentada no banco com dois amarrados de verduras e legumes no chão, aos pés, ergueu-se espantada a passar as mãos sobre as nádegas e a cheirar olhando o banco. Se sentindo indignada, dá um tapão no cidadão ao lado vociferando: - Cachorro, você se mijou e me encharcou toda de xixi; seu porcalhão! O homem que dormia a sono solto com o chapéu sobre o rosto, se apruma no assento e perplexo a esfregar o braço estapeado, responde: - Não fui eu não dona! A mulher retruca: - Lógico que foi seu porco! E agora toda mijada, o que faço? O homem, que óbvio, mostrava-se em estado de embriaguez, já àquela hora da manhã, gesticulando, diz pra ir à porta do vagão e por o molhado ao vento do trem que seca. A gorda furiosa e possessa passou a sacudi-lo, no que caiu sobre seus amarrados a danificar as hortaliças. Mais irada ainda, o segura a dizer que ia jogá-lo fora do trem. Barbosa sentindo a tragédia levanta-se e tenta interferir, apartando a briga, no que conseguiu com ajuda de outros sitiantes. Com a calma aparente reinando; o pinguço a um canto de pé encostado ao balaustre a balançar e a mulher agachada a arrumar suas verduras destroçadas e espalhadas a resmungar, visivelmente “invocada”, sob tensão dos passageiros que a observavam, manteve-se mais calma. De súbito, ergueu-se a caminhar em direção a porta central, abrindo-a parcialmente e de costas põe o molhado do xixi a secar. No que provocou risos a todos os presentes, inclusive em padre Barbosa, que meneando a cabeça pensou consigo mesmo: - Deus seja louvado, escrevendo certo por linhas tontas, digo; tortas! Não é que o pinguço tinha razão!
E assim, padre Barbosa mais uma vez, nos brindou com este, e com tantos outros episódios ao longo da sua santa vida, onde o velho trem Maria fumaça a lançar aos céus o fumo que marcaria para sempre uma etapa do progresso sobre os dormentes e os trilhos que deles se utilizaram...Ao chegar a estação da cidade de Rio das Flores, teve ajuda de todos, inclusive dos dois: o pinguço e da gorda, que já seca, auxiliaram na retirada do pesado genuflexório do vagão, sob a benção de padre Barbosa, desejando a todos dia cheio de conquistas, bons negócios, felicidade, muita saúde e boa viagem.
Neste episódio específico, embora a agressividade se fizesse presente, padre Barbosa agiu como um pacificador, trazendo a paz aos ditos “contendores” pela palavra e alegrar, porque não, o ambiente no vagão com a gorducha a aceitar secar-se ao vento do trem de conformidade com as orientações do pinguço... Mas que ao vê-la se secando, sorrindo, Falou: _ Eu não disse que secava ?
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