A intercessão com a presença do Cristo...
Depois de realizar os sacramentos do batismo em quatro crianças numa das fazendas próximas ao município de Parapeuma (RJ), cujo proprietário agraciou aos seus empregados com festivo almoço em que Padre Barbosa, por compromisso em Rio das Flores infelizmente não pôde participar, lhe foram ofertadas pelo fazendeiro inúmeras guloseimas, as quais degustariam no seu almoço na casa paroquial, vez que dera folga à cozinheira por estar se recuperando de uma crise renal.
Sem ser guloso, agradeceu a oferta a dizer que as guloseimas seriam bem vindas, já que o estômago dava sinais de vazio, mas que o expresso das 13 horas não o esperaria. De posse de um bem resistente embrulho, lá foi padre Barbosa conduzido na charrete da fazenda em direção à estação férrea de Parapeuma.
Acomodado a par de poltronas a atender vez por outra alguns fiéis a beijá-lo às mãos pedindo-lhe a benção, Barbosa, com o assento ao seu lado desocupado, colocou o embrulho do farnel apetitoso. Lá pelas tantas, na localidade de Taboas, entra no vagão uma senhora “bem nutrida” que se abanca a par de poltronas do lado oposto, após colocar sua sacola no bagageiro. Todavia, não tardou, elevou-se do assento e pôs-se a fuçar a sacola, quando observou a presença do sacerdote. Abrindo imenso sorriso, foi ao seu encontro a lhe pedir a benção. Só que ao estender a mão, com o jogar do trem, desequilibrou-se e, no afã de se apoiar, não conseguiu êxito. A evitar a queda, utilizou-se do assento vago ao lado do padre Barbosa, se esparramando toda. Barbosa, atônito, pôs as mãos à cabeça, arregalando os olhos e escutou no impacto o som de algo se quebrando: crash!
Assustada, a gorda mulher diz: - Deus seja louvado me oferecendo o lugar onde pude sentar-me! Estendendo o braço, segurou a mão do Padre Barbosa, a beijou e proferiu: - Só mesmo o senhor poderia interceder por mim! Deixando o assento, foi sentar-se no seu lugar apalpando seu volumoso glúteo.
Barbosa, desolado a olhar o estrago, via as pontas dos cacos da louça que varavam o embrulho, a deixar escorrer o molho e parte da refeição a exalar o aroma penetrante que fustigava ainda mais a fome.
Então, pensou consigo mesmo: - Senhor, já que intercedi junto a ti pela senhora, me perdoe, mas porque não intercedeste pelo meu almoço, a deixar-me, logo hoje, não levado pela gula, sem me alimentar?
Como penitência, padre Barbosa passou o resto do dia a pão e água!
Ao final de tarde, após celebrar a missa das 18 h. e dirigir-se a porta de entrada da igreja que a trancou, retorna à direção da sacristia e ao acender a luz da sala, eis a surpresa! Sobre a pequena mesa ali posta, estavam: um bule de café, uma pequena leiteira, um prato contendo queijo e bolos, uma cesta com pães e manteiga. Barbosa estático vira-se a imagem de Cristo a fazer o sinal da cruz e em oração agradece pela refeição ali exposta. A caminhar até a mesa, depara-se com um papel sobre a mesma, que ao lê-lo vê que aquela ceia fora um oferecimento do pessoal da estação e do amigo padeiro em razão da perda do seu alimento sacrificado durante a viagem no expresso da tarde.
A partir daquele instante, Barbosa de joelhos olhando a imagem do Cristo que na cruz demonstra o seu sofrimento por nós, de posse do seu rosário, se pôs a rezar contritamente durante vários minutos e é interrompido por batidas à porta da sacristia, que ao abri-la ver que ali estava o padeiro que vinha convidá-lo ao jantar junto a sua família. Fazendo duplo agradecimento, ou seja, pelo lanche e pelo jantar, Barbosa o solicitou que entrasse e o contou sobre a presença de Cristo ali naquela sacristia, desde quando se introduziu levado por ELE o seu alimento não só físico como espiritual. Pois para Barbosa, esta foi o maior de todos os momentos que teve em sua vida como religioso, A presença do Cristo VIVO por Barbosa presenciada, pela ação de uma simples intercessão...
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