A regressão aos hominídeos
Ao cruzarmos o jardim do hotel em busca da nossa caminhada matinal, depois de um farto e guloso desjejum, deparamos com um entrevero no estacionamento, em que dois hóspedes, - tendo um deles seu veículo atravessado – trocavam palavras onde o tom áspero do proprietário do auto desalinhado sobressaia pela atitude intempestiva, enquanto o outro cidadão mais comedido mostrava-se visivelmente alheio ao diálogo inflamado, limitava-se em passar a flanela sobre o seu automóvel posicionado à vaga, apenas a ouvir a falácia do aborrecido cidadão. Achando que aquela rusga certamente não acabaria em “pizza”, deixamos o hotel galgando a calçada da rua, desejosos que nossa previsão não se concretizasse.
À manhã seguinte ao deixarmos o refeitório, à portaria o gerente aturdido se desdobrava para conter o início de furdunço, onde aquele cidadão aparentemente calmo e desligado, agora, enfurecido, queria porque queria estar com o sujeito que o desfeiteou no dia anterior no estacionamento, a exigir que se retirasse da vaga, alegando no direito de tê-la por haver chegado ao hotel há mais tempo. Sem obter o sucesso, dada à interferência do abilolado gerente, irado, visivelmente transtornado, saiu porta a fora resmungando entre dentes que daria o troco na mesma moeda. Com a previsão se evidenciando, deixamos o hotel e ao passarmos pelo estacionamento, eis a surpresa... Havia dois veículos com seus respectivos faróis dianteiros direitos estilhaçados. O que deduzimos se tratar dos hóspedes em desacordo dando asas à violência.
De regresso ao hotel, um problema se mostrava, em que a presença de uma viatura policial bem dava a extensão da encrenca. Ao transpormos o portão, no jardim lá estavam dois policiais e várias pessoas aglomeradas no estacionamento, onde acirrado palavreado em alta discussão dimensionava o entrevero. Afastados, ficamos a observar. De repente um dois policiais que tentava resolver a questão, é empurrado e cai ao chão. O outro em sua defesa atraca-se com o agressor, dando-lhe voz de prisão. Nisso a mulher do detido pela agressão, aos brados, se insurge e com a bolsa tenta atingir o policial, que já tendo a defesa do agredido que acabava de se erguer do chão, se defende da mulher.
Baixaria em ebulição, com a intervenção do gerente e outras pessoas foi contido o furdunço e os diretamente envolvidos foram conduzidos a DP, sob protestos e pelas “autoridades”. Parte do pessoal, os hóspedes causadores da encrenca e suas mulheres e amigos, seguiram de “camburão” e o restante das possíveis testemunhas e obviamente o gerente e camareiro, seguiram a pé
Moral da história: Violência não é privilégio das periferias e das classes menos favorecidas, ela é sim, fruto da banalização a qual o ser humano vem sendo submetido no seu dia a dia, com as máximas do salve-se quem puder, olho no olho dente por dente e o velho jargão do sabe com quem esta falando?
Ah... Esses turistas ditos civilizados quando são contestados nos seus “ditos” direitos e se insurgem se achando tapeado nas suas proposições, bem mostram o quanto de “civilizados” são constituídos e nos proporcionam instantes de tristeza que não deixam de ter o seu lado bastante pitoresco... Será que estamos retornando aos primórdios da civilização com a “regressão aos hominídeos?”
Tudo isso por causa de uma vaga no estacionamento... Pode isso em pleno século XXI ?
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