A Semana Santa, entre a cruz e a caldeirinha...
Não faz muito tempo que a Semana Santa era considerada um período de extrema consternação, em que as pessoas demonstravam através do sentimento de profundo respeito, o quanto se sentiam contritos a agonia e morte de Jesus Cristo. À medida que a semana avançava, mais se observava o sentimento pesaroso pairando, a levar as pessoas a se envolverem de total tristeza, caraterizado pelas igrejas católicas com a cobertura das imagens sacras envolvidas em tecido roxo, em sinal de luto. Hoje, porém, notamos que esse respeito, esse sentimento, vem sucumbindo sobremaneira, - excetuando-se talvez nos mais idosos – e a cada ano se torna menos sensíveis, a denotar muita indiferença com relação às tradições universais, atribuindo-as a mera crendice e ao folclore, no que vinha sendo até então, a dita paixão pela morte de Jesus Cristo.
Todavia, um episódio presenciado por nós, veio demonstrar que muitas vezes esses contritos sentimentos não passam de pura hipocrisia, quando vêm de encontro a interesses pessoais e até mesmo comerciais.
Encontrávamos num hotel fazenda próximo a Nova Friburgo arejando as ideias durante a Semana Santa e, o mesmo com a total ocupação, objetivando proporcionar atrações a mais aos hóspedes, ofereceu uma noitada dançante ao som de um conjunto musical, previsto para sexta-feira, após a meia- noite em respeito à Paixão.
Quatro “coroas” ao observarem o cartaz anunciando o “sarau”, indignadas se insurgiram contra a direção protestando pela blasfêmia e falta de respeito a Deus, embora houvesse pela direção o cuidado de iniciar o “baile” a partir das 24 horas, portanto em pleno Sábado de Aleluia. Este argumento às sessentonas não era válido, afinal Cristo ressuscitou somente à manhã e sábado segundo as Escrituras. Alias, não deixou de ter razão essa ponderação, pois normalmente a malhação do Judas ocorre depois das badaladas dos sinos às 11 horas da manhã de sábado anunciando a ressurreição do Cristo. Portanto, Sábado de Aleluia.
Entre tantas controvérsias, protestos, críticas e argumentações de ambas as partes, um clima tenso de animosidade tomou conta do ambiente. No auge dos “debates”, um dos empregados, ardilosamente indagou das “coroas carolas” se era correto e, também pecaminoso, se sentar à mesa de jogo na Quinta e Sexta-feira Santa, a jogar compulsivamente pôquer de alto cacife, comparando o que fizeram os centuriões ao pé da cruz pela disputa do Manto Sagrado de Cristo. Acabrunhadas, sem responderem ou dizer algo, rumaram à direção da sala de jogos conduzindo os apetrechos para o jogo: baralhos e fichas, etc... Com mais uma rodada de pôquer.
Moral da história: O sentimento de religiosidade de cada pessoa, deve ser dimensionado pela forma de ser de acordo com a consciência. Querer impô-lo através de obrigatoriedades preconceituosas e intimidadoras, não seria recomendável. Portanto, cada um que julgue seus procedimentos.
“Ah... Esses turistas religiosos” que pela hipocrisia tentam demonstrar suas qualidades religiosas, são de fato bem pitorescos quando se vêm entre a “Cruz e a Caldeirinha” e, tem na caldeirinha suas tentações em sentimentos de ambição... E na cruz a defender a religiosidade a poder pedir o seu perdão... Se é que costumam fazer após suas jogatinas... Quanto às conclusões auferidas entre as partes em desacordo, o baile foi realizado até às 4 horas e o carteado do pôquer com a dita rodada de fogo, até às 4 horas e meia. Pelo visto houve o aceite de ambas as partes...
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