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Terça-feira, 21 de Janeiro de 2025
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As gargalhadas e o velho Paixão

E as crianças é que pagaram

José Luiz Ayres
Por José Luiz Ayres
As gargalhadas e o velho Paixão
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As  gargalhadas e o velho Paixão...

            Aquela tarde, tolhido pela chuva intermitente que caia, optei então folhear meus álbuns de fotografia, que há tempos não consultava ou abria, a olhar as fotos, em preto e branco, pois o mesmo referia-se a minha infância e óbvio não seria de maneira diferente, já que àquela ocasião não havia fotos coloridas. A cada foto observada, por incrível que pareça, lembrava-me do instantâneo, cuja data e local estavam inseridos aos rodapés das fotografias. Dando segmento a observação, ao virar a página, deparei-me com o instantâneo, onde me via à janela da Maria Fumaça 245,  cuja escada de acesso posicionavam-se o maquinista; José Gomes, o Chefe da estação seu José Paixão na cidade de Campanha no sul de Minas.

            Olhando a foto, veio-me a mente a figura carismática do velho, saudoso e gordo seu Paixão e como tal de suas histórias repletas de  passagens às vezes até líricas ou de ações dramáticas as quais ele jurava como reais. Relembrando, recordei-me de um episódio narrado por ele, que na ocasião nos deixou um tanto bem impressionado ( eu e a nossa turma de folguedos). Afinal, na oportunidade só tinha 9 anos e essas histórias interioranas se faziam comuns nas conversas e a credibilidade entre as crianças, bem como muitos adultos era total.

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            Dizia ele que certa vez, ao receber a mensagem telegráfica que o trem havia partido de Cambuquira, solicitou do seu agente que fosse verificar se a linha  1  estava aberta para deixar o trem na plataforma no desembarque dos passageiros.   Não tardou, o seu funcionário espavorido e preocupado, abrindo a porta da sala de Paixão, dispara a dizer que a chave do desvio estava emperrada,  pois usou todo tipo de força e não houve como abri-la,  a ficar em perigo pelos vagões estacionados ali na linha 2, à  espera de serem retirados, o que ocasionaria um acidente grave . Mas que depressa, deixando sua sala, Paixão desce aos trilhos, munido de um lampião, acompanhado pelo agente e foi ver “in loco” o problema. Lá chegando, constatou a dificuldade e, mesmo com ajuda do agente não conseguiu abrir a chave emperrada

            Preocupado, saiu linha afora na tentativa de parar o expresso das 20 horas bem antes da curva, pois  não tardaria a chegar, a sinaliza-lo com o balançar do lampião e rezar para o maquinista vê-lo na sinalização manual de Paixão.  Mas ao dar início a caminhada em plena escuridão, sua atenção foi desviada ao ouvir nitidamente uma gargalhada seguida de um sussurrante pedido:   --  minha vez chegou!  Olhando a todas as direções, nada viu. Apavorado, pôs-se a correr margeando aos trilhos e, à medida que avançava, lembrou-se da lenda do peão pinguço morto pelo trem à entrada da fazenda Lagoinha e segundo a crendice, sua alma penada permanece vagando entre a estação e a fazenda perambulando à linha férrea.

            Ao ouvir o apito do trem, sobre os trilhos se pôs  agitar o lampião. Mesmo com o forte farol a iluminar o leito e consequentemente pela intensa a luminosidade a deixa-lo cego e sem noção da distância, a qual só era percebida pelo aumento do barulho da máquina, quando de súbito, sobre a bitola, Paixão observa a enorme quantidades de fagulhas incandescentes geradas pelas rodas da locomotiva em atrito com os trilhos na frenagem que era produzida na  ação do maquinista. A uns 15 metros de onde se posicionava o comboio parou.

Já à cabine da máquina, Paixão é chamado de “maluco” e passa ao colega o motivo da maluquice. Diante do grave problema, seguem na locomotiva vagarosamente e se aproximam da chave, onde o agente “apavorado”, quase sem voz, segurando a cruz do seu cordão ao pescoço, sobe à cabine, que pela luz do lampião, Paixão vê o quanto de pavor era contido. Indagando o que houve, sobre um esforço, fala:  --   Sr. Paixão, após ouvir uma sonora gargalhada abafada e rouca, escutei um barulho e vi que a chave abriu-se e consequentemente o desvio se abriu! Mas causou ainda mais medo, ao dizer que desta vez eu perdoou... Claro que essa história tinha o objetivo de nos assustar, afinal éramos crianças e que pelas peraltices ali, na estação praticada, ao longo do nosso dia a dia, e a fuçar e remexer em tudo, só podia ser para nos intimidar com casos de sobrenatural. O fantasma seria do pinguço que morreu atropelado pelo trem na entrada da fazenda Lagoinha. Daquele dia em diante, esse episódio passou a ser considerado real e não apenas no propósito de assustar a criançada...

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