Barbosa, um Eterno Amigo
Neste mês de Setembro, em especial, não poderia deixar de homenagear o saudoso amigo; Monsenhor Barbosa, que é, se não um dos principais colaboradores e personagens dos episódios em nossos acervos de crônicas, Na fumaça do trem, o qual se destaca pela gama de narrativas bem interessantes, comprovadas no número de leitores em suas mensagens a nós enviadas.
Esta homenagem deve-se pelo jubileu de prata do nosso conhecimento em ter o privilégio de poder tê-lo como amigo e orientador espiritual ao longo de 15 anos, até nos deixar ao partir à eternidade a se unir ao Pai em 2008, deixando como legado a perene saudade, que hoje nos conforta ao cronicar seus momentos de vida religiosa pastoral, cujo trem era o esteio entre Deus e os fiéis na missão sacerdotal. Por isso, me propus a reverenciá-lo homenageando com sua última vez que viajou numa composição férrea.
Em 1997, depois de exaustíssimo empenho em levá-lo a desfrutar do passeio turístico à cidade serrana de Miguel Pereira – RJ, num sábado previamente agendado junto à direção da empresa ferroviária: Passeios turísticos Trem Azul, a conduzir seus turistas na viagem entre ida e volta de Miguel Pereira; alto da serra, à cidade de Conrado ao pé da serra, em percurso de pouco mais de 20Km, e finalmente se dispôs a aceitar. Como particularidade, esta empresa por problemas políticos, se viu a cessar suas atividades e fazer com que tivesse seu patrimônio adquirido pela ABPF (Associação Brasileira de Preservação Ferroviária), percussora e detentora da implantação do nosso hoje Trem das Águas a partir do ano 2000, na utilização inicial com seus seis vagões do Trem Azul.
Como convidado lá íamos nós rumo a Miguel Pereira, a curtir as belezas montanhosas da serra Azul, com Barbosa a admirar-se; naquela ocasião ainda bem preservada, com a exuberante natureza e tecer elogios e comentários pelo belíssimo visual exposto. Tendo pouco mais de hora e meia de viagem, ao, a galgar a plataforma da estação de Miguel Pereira, RJ, onde aos nossos olhos e de centenas de pessoas admiravam o comboio ali exposto, aguardando o início do magnífico passeio, que certamente proporcionaria à grande maioria sua volta ao passado, a trazer da memória belas recordações de momentos já perpetuados e quase esquecidos, que agora num pequeno passeio reviveremos, sem dúvida no transcorrer do trajeto através das imagens revividas às janelas de seus vagões e a ouvir os apitos e os rangidos inesquecíveis no atritar das rodas sobre os velhos trilhos e ter o açoite aos vagões pela vegetação margeante ao leito férreo, já crescida, na ausência das composições que ora ali se utilizavam por vários anos.
Já acomodados em nossos assentos, Barbosa, visivelmente emocionado a olhar a tudo nos mínimos detalhes, num sobressalto, se surpreende ao ouvir o silvo soprado pelo chefe da estação e, em seguida, o apito da locomotiva que dá início à partida. Por instantes no que pese o alarido dos passageiros, Barbosa cerra os olhos, fazendo o sinal da Cruz e contrito, como estivesse a orar, em sussurros profere sua prece: - “Obrigado meu Pai por esta Graça recebida em poder ver e sentir, revivendo um pedaço da vida pastoral a qual sempre me dediquei e levado pela fé e o amor em ti. Agradeço a ter colocado este amigo e irmão ao meu lado. O Senhor será sempre louvado”.
Com pouco mais de duas horas de viagem o trem chega à estação de Miguel Pereira, de retorno, onde no vagão se observava pelos semblantes dos passageiros, que a felicidade se fazia presente no regozijo imperado no ambiente. Sentados permanecemos à espera para o melhor desafogo no desembarque, quando sou surpreendido pela atitude e gesto fraterno de Barbosa, ao se erguer e me abraçar de forma carinhosa, afagando-me à face e dizer: - “Meu amigo José não tenho palavra a expressar-me por essa gratidão, pelo que você proporcionou a este calejado e cansado sacerdote que breve estará se unindo ao Pai, que certamente me deu esta Graça em poder recordar minha vida, onde o trem muito representou na pastoral em Rio das Flores e todas aquelas vilas e lugarejos da bela região interiorana fluminense a qual me dediquei por vários anos e ter o reconhecimento por essa dádiva divina ofertada pelo Senhor em me permitir reviver estes momentos sublimes de voltar ao passado depois de quase 30 anos. Obrigado amigo por ser parte integrante desta Graça a qual o Altíssimo me ungiu e presentou. Deus será sempre louvado pela sua infinita bondade”!
Monsenhor Barbosa eternizou-se em setembro de 2008 aos 89 anos, no Convento N. Sª. da Ajuda em Vila Isabel – RJ, onde tive o privilégio de participar das exéquias, por ser a instituição das Ordem das Carmelitas não permitido o contato de pessoas sem o cunho religioso, ou ser parentes próximos, ou autorização pelo próprio finado em vida. Essa graça me foi concedida pelo eterno Amigo Barbosa...
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