Carnaval... Apenas uma fantasia!
Era carnaval naquela manhã de sábado e depois de desfrutarmos de proveitosa caminhada matutina pelas vias urbanas da secular cidade de São João Del Rey, optamos por um descanso, tendo em vistas nossas panturrilhas se encontrarem doloridas pelo sobe e desce das ruas e avenidas curtidas e, então, nos valemos de um bar em cuja calçada ocupamos a mesa onde solicitamos água a matar a sede.
Sentados a amainar as doloridas pernas, ficamos a saborear o líquido da gelada mineral, a admirar aquela movimentação na avenida principal cujo nome me parece ser “Oito de Dezembro”, que começava a expor os primeiros blocos carnavalescos. Ali já uns bons minutos, quando um grupo de alegres “coroas foliões”, se abanca em três mesas, a fazer seus pedidos de bebidas e tira gosto expondo suas alegrias, em conformidade com o festivo reinado momesco que aquele sábado dava início aos seus desfiles de blocos com suas irreverentes fantasias e as tradicionais jocosidades onde a política e os políticos passam a ser os personagens das chacotas. Nós ali a curtirmos as irreverências, acabamos permanecendo por bastante tempo assistindo àquele palco uma saudável teatralização, cujos artistas em desfile cada vez mais nos proporcionavam.
De súbito, começamos a sentir por parte daquele grupo abancado as três mesas, algumas palavras e atos inconvenientes, talvez já provocados pela ingestão alcoólica, que são por outros amigos, contestado e gozado, no que pese o local já estivessem lotados de turistas numa liberação carnavalesca geral. Todavia, em outra mesa, também com vários amigos a beber, a conversa baseava-se no assunto mulher, onde cada qual dava sua opinião “machista”. Já com a despesa paga, preparando-nos a deixar o local, uma cena fez com que recuássemos e ficamos a observar a atitude de um coroa da tal mesa, ao tecer comentários desairosos sobre um grupo de moças que vinha cantando e dançando à calçada, em que suas vestes em trajes provocantes deixa a “velharia” em polvorosa. Cada uma que passava, era elogiada e agraciada com todo tipo de gracejo daquela geração “viagra” E assim à medida que a dosagem etílica aumentava, mais os delirantes arroubos se intensificavam.
Um deles -- por sinal o que mais se sobressaia em termos de conquistador pelas bravatas proferidas -- talvez extrapolando na auto confiança e querendo se mostrar diante dos amigos seus predicados de “Dom Juan”, de forma atrevida resolveu acharcar uma bela morena mineira esbraseada, de corpo escultural, segredando-lhe ao ouvido, no exato instante que enleava o braço em sua desnuda cintura, apenas contornava sobre o proeminente traseiro, um biquíni adornado com penas coloridas. Sem que ele esperasse, a atraente mulher se desvencilhou do assédio e, virando-se ao abusado disse alto e em bom som: -- Vê se se enxerga vovô... Vai se juntar aos seus parceiros de sueca na pracinha, já que é a única coisa que sobe em vocês é a Pressão Arterial e a idade limite para aposentadoria, Uai!!
O coroa desconsertado retornou a mesa unindo-se aos amigos também aparvalhados e, virou de uma só vez o seu copo de caipirinha...
Moral da história: Apreciar o que é belo, mesmo de saudosas memórias, é um direito natural de cada um, afinal cada qual desfrutou ou talvez desfrute de sua época e, recordar o que passou, é também uma forma de viver...
Ah... Esses “turistas idosos inconformados”, quando se acham ainda que podem fazer frente a realidade sem ser a virtual, do envelhecimento, atribuindo a uma “droga milagrosa” seu potencial de virilidade, esquecendo-se que a atração física, a pele são fatores fundamentais e básicos num envolvimento amoroso, são de fato um saudosistas e sonhadores a nos proporcionar momentos bem pitorescos quando são desmascarados por mulheres... Ou mesmo pela própria vontade de não querer reconhecer que sua época já foi embora...
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