Chimarrão aguado e celular mudo
Mal deixávamos o hotel no intuito da nossa caminhada matinal na agradável cidade gaúcha de Nova Petrópolis, RG, ouvimos o som de uma freada seguido de um baque surdo acompanhado de estilhaços de vidro se partindo. Sem dúvida alguma se tratava de um acidente de trânsito.
Cruzando o belo jardim, chegamos ao portão e deparamos com um veículo Gol avariado na dianteira, cuja placa indicava ser de Curitiba e uma charrete também danificada à traseira com o animal tracionado um tanto agitado sendo acalmado por um transeunte. Outro cidadão engatinhando-se, ao chão, sob o cavalo tentava livrar-se das patas com uma saca a proteger a cabeça, cujo chapéu caído distava fora do alcance.
Passado o susto, de pé, o charreteiro tirando a poeira, vai à direção do Gol, onde o motorista um tanto baratinado a passar a mão na testa, deixa o veículo sustentando na outra mão o celular, que ainda nos parecia falar, encostado à porta do auto. Nisso ao colocar o telefone no bolso da camisa, o possesso charreteiro que o aguardava à sua frente o desfecho da ligação, esbravejando, indagou do cidadão o porquê daquela estúpida batida que o quase matou, pelo menos de susto...
O homem um tanto confuso e aturdido, talvez pela pancada na cabeça, resolvesse se defender eximindo-se de culpa, alegando que a charrete estava mal estacionada. Daí o porquê da colisão e exigiu o ressarcimento dos prejuízos. Indignado e revoltado, o pobre charreteiro retruca que não estava parado e ele que ficou desatento por estar falando ao celular.
Enfim diante de ataques e contra ataques, o entrevero persistiu sem que houvesse um culpado, quando após tantas ofensas mútuas, o dono do Gol querendo dar uma de ”vivo”, já que não tinha como fugir da culpa, resolveu deixar o local. O charreteiro observando sua atitude, inconformado o segurou pelo braço e no empurra- empurra fez cair do bolso do esperto, o celular, que se espatifou no chão. Revoltado, o malandro enfurecido reagiu exigindo outro aparelho telefônico. Assustado pelo estrago, o charreteiro sem saber o que dizer, retrucou dizendo que agora ficaria tudo igual, pois na trombada ele teve a sua garrafa térmica e a cuia do chimarrão, quebradas, pela queda provocada pelo forte tranco no impacto, o qual foi até lançado fora da charrete a ficar a mercê do risco das patas do cavalo.
Moral da história: Mais vale às vezes as tradições, do que as inovações tecnológicas...
Ah... Esses “turistas artistas” que abusam das espertezas e vivacidades, mas quando as consequências desastrosas chegam por esses abusos e não têm como fugir delas, são sem dúvida uns eternos pitorescos a nos oferecerem bons momentos hilariantes.
Pelo que soubemos ao retornar ao hotel horas depois, não se chegou a um acordo a não ser cada um com o seu prejuízo, ou seja: Um celular espatifado e uma garrafa térmica de agua quente e cuia de louça para o chimarrão quebradas. Quanto aos veículos, mero acontecido... Este final nos foi narrado por um dos serviçais do hotel, que à porta do estabelecimento efetuava sua limpeza matinal. E teceu cmentários aos envolvidos. -- Ô guri, como tu foste esperto tchê. Barbaridade!!! Mas espera ai, qual dos dois seria o esperto? O charreteiro que teve as peças do chimarrão quebradas, ou o proprietário do Gol avariado e do celular espatifado?
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