Dois pombinhos e três macaquinhos...
Absorto e deslumbrado naquele ambiente de paz em meio à mata, cercados por magníficas e raras araucárias entre infinidades de pássaros a toldarem o predominante verde de uma natureza intacta e preservada, com suas cores e nuance maravilhosas, e descortinar do topo do grande caynon uma visão panorâmica indescritível, que óbvio, me levava a divagar e retroceder no tempo através dos séculos como seria viver naquele local praticamente inóspito, optei em posicionar-me sobre uma das pontilhadas pedras ali expostas a obter um anglo, que retratasse a tomada mais ampla do horizonte, cujas nuvens em formações desordenadas ocultavam o sol que já iniciava a cair em busca do ocaso.
Ao galgar as rochas, sob cuidado intenso dada a limosidade, no que atingi o ponto desejado, sou surpreendido pela visão de um casal abaixo localizado, que livre e despreocupado curtia a liberdade de amar desprovido de qualquer pudor em total nudez. Confesso que fui tomado por uma “inveja parcial”... Todavia ao tentar recuar e deixa-lo na sua paz naquele paraíso, toquei sem querer numa pequena pedra que rolou atingindo o solo próximo do casal de “pombinhos”.
Ao descer das pedras, após fotografar a magnifica vista e quando contornava a formação rochosa, eis que deparo com o casal ainda sobre égides de Afrodite, que num ato reflexo tenta cobrir sua nudez. Cumprimentando respeitosamente, o disse que ficassem em paz e retornasse ao seu canto amoroso, pois “nada vi, nada ouvi e muito menos falaria”. Afinal quem seria eu para recriminar tal encontro, ainda mais naquele paradisíaco local, mesmo sabendo que a traição e infidelidade nunca fizeram parte do meu contexto amoroso...
A mulher era simplesmente casada com o amigo e companheiro que nos acompanhava naquele tour a Canela, RS, Ele, o “namorado”, o proprietário da pousada em que nos hospedava e amigo de longas datas no Rio de Janeiro do casal e sempre que viajava ao Rio, como nos contou, além de se hospedar no apartamento do amigo na Tijuca, ficava a disposição desta mulher enquanto seu marido estava no trabalho. Donde se conclui, que nada melhor em seguir a lenda dos macaquinhos; dito do folclore chinês, onde nada vejo, nada ouço e nada falo.
Moral da história: Amigos, amigos, consciências a parte, pois cada qual sabe de sí.
Ah... Esses “turistas amigos” quando nos colocam em situações embaraçosas e que por vezes nos criam problemas de consciência os quais ficamos no dilema entre a cruz e a espada, só nos resta a seguir o tal provérbio, não sei se chinês, dos três macaquinhos. Mas que sem dúvida o episódio teve um cunho de bem pitoresco, isso sou obrigado a reconhecer, ao ver, ouvir e ter de falar pela crônica a você leitor... Você falaria ao seu companheiro sobre o que assistiu naquele canyon, ou tem a preferência igual aos três macaquinhos?
Esta crônica só foi escrita agora, depois de alguns anos que tive o infeliz momento em flagrar o casal nas suas romanescas traições, porque o nosso amigo já havia falecido e como morto, logicamente, não será considerado “chifrudo” e mesmo porque, a viúva casou-se com o amante, oficializando a traição. Imagine se houvesse falado na ocasião sobre o que assisti... Estaria ela gozando agora das delícias gaúchas?
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