Por Luís Cláudio de Carvalho
Há duas semanas, no artigo em que louvei as principais iniciativas do governador mineiro Romeu Zema, afirmei que “a administração pública é muito diferente da administração de empresas”. E complementei que “as empresas visam tão somente o lucro. O governo visa o bem estar das pessoas, através de planejamento e execução de ações por servidores públicos, que também têm um perfil diferente dos trabalhadores das empresas privadas”.
Já ouvi políticos e outras pessoas dizerem: “a prefeitura tem que ser administrada como uma empresa”. Não é bem assim. É fato que tem que haver gestão eficiente, bons resultados e controle de gastos, mas não para se fazer exatamente como se faz na iniciativa privada. O mesmo vale para os estados. Órgãos públicos têm funcionários concursados, servidores que atuam de maneira técnica. O prefeito e o governador podem, sim, imprimir um perfil técnico e nomear profissionais para ocuparem cargos, mas o viés político será sempre levado em conta. Não exatamente, e tão somente, no sentido de se cercarem de partidários e aliados políticos, mas no sentido de que existe a necessidade do diálogo. Tanto com as esferas superiores e inferiores, quanto com outros poderes, com os membros do governo e, especialmente, com os cidadãos. Na iniciativa privada, o proprietário ou executivo toma a decisão que quiser, ordena aos subordinados, cobra resultados e os lucros ou os prejuízos são de sua inteira responsabilidade.
Entre outros estados brasileiros, o de Minas Gerais encontra-se em situação de calamidade financeira e as consequências das decisões do governador podem ser desastrosas, caso não opte pelo diálogo, sobretudo com os prefeitos, e tente impor um novo modelo administrativo, sem levar em conta que se trata de administração pública. É claro que um novo modelo deva ser implantado, visto que o atual não cabe mais nos tempos modernos, mas não deve ser “a ferro e fogo”. Sempre defendi que a administração pública precisa se modernizar e contrabalançar a técnica e a política, em que a técnica se sobreponha, sem anular a política. Portanto, embora continue apoiando as principais ações do governador Zema, entendo que a implantação do novo modelo proposto por ele deva ser gradual e cercada de cuidados. Do contrário, a política, que ainda tem uma influência enorme na administração pública, aliada aos apuros financeiros que os prefeitos vêm passando para administrar seus municípios, poderá impedir avanços e, até mesmo, a continuação do seu mandato.
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