Por Luís Cláudio de Carvalho
O Brasil acompanhou, no início desse ano legislativo, as eleições dos presidentes da Câmara e do Senado Federal. Os deputados federais, com muita tranquilidade e em comum acordo com o governo, reconduziram ao cargo Rodrigo Maia (DEM). Os senadores, após muitos tumultos, vexames e "socorro" do STF, elegeram o desconhecido Davi Alcolumbre (DEM), também candidato do governo, declarado após protestos e vetos ao nome do candidato inicial, Renan Calheiros (MDB). As duas eleições foram resultados de articulações, negociações e conchavos, ações normais nos parlamentos, que são espaços essencialmente políticos e a alma da democracia. Que o presidente Bolsonaro, ao contrário do que propalou durante a campanha eleitoral, ia ter que negociar com a classe política, eu já sabia. Ainda bem. Nenhum governo consegue êxito sem ter apoio da maioria da classe política ou, pelo menos, boa expectativa desse apoio. Sem negociação, e agora é que vão começar pra valer, não tem como aprovar as tão necessárias reformas.
O fato é que, conforme suspeitei com antecedência, a base do governo é o DEM, ex-PFL, oriundo da ARENA, com grande participação do PSDB, PTB, PP e até parte do MDB, partidos que têm lideranças envolvidas em escândalos e corrupções que vieram à tona nos últimos tempos. Para aqueles que acreditavam que o "Mito" seria diferente e ia ter equipe e apoiadores puritanos deve ter sido uma decepção. Para a maioria da classe política e das pessoas que têm alguma experiência na área, tudo transcorre normalmente. Particularmente, entendo que isso não compromete a expectativa de mudança. Se vai ser para melhor ou para pior, dependerá da firmeza e da capacidade de liderança e articulação do governo, coisa que Bolsonaro, por si só, não tem.
Quanto à política e suas nuances, é extremamente importante que ela continue existindo e seja, até, fortalecida. É claro que as velhas práticas, especialmente as espúrias e de interesses puramente pessoais, necessitam ser abolidas. De uns tempos pra cá, está havendo uma demonização da política, especialmente por parte da imprensa e de alguns novatos, e isso não é bom. Anular a política é anular a democracia, a discussão, o debate e as qualidades daqueles que têm capacidade de liderança e de articulação. Os fatores positivos da política podem e devem ser usados para definir novos rumos e melhorar a qualidade de vida das pessoas.
Comentários: