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Quinta-feira, 12 de Junho de 2025
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Fagulhas do passado reacendem no presente...

E as emoções são os marcos da verdade.

José Luiz Ayres
Por José Luiz Ayres
Fagulhas do passado reacendem no presente...
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Fagulhas do passado reacendem no presente

            Um pouco afastado do grupo que de posse de câmeras, celulares ainda embrionários, nem se pesava existirem,  fazia da locomotiva 206 o pano de fundo aos flagrantes fotográficos, a subir e descer da velha cabine, um senhor chegou-se a nós, que ali observávamos aquela agitação em que os turistas expondo seus prazeres pelo possível momento de aparente felicidade  e solicitou nos se poderíamos fotografá-lo próximo a máquina. Atendendo-o, fiquei a fotografá-lo nas poses desejadas, às quais como criança fosse diante do seu brinquedo, visivelmente alegre e feliz se posicionava à procura dos melhores ângulos por ele desejados.

            Transbordando de felicidade e se dizendo realizado, por ter depois de quase sessenta anos retornado ao passado, a trazer emoções, sentou-se ao nosso lado e pôs a  contar o porquê daquele ato aparentemente infantil, por ele efetuado, o qual a muitos pudesse caracterizar como senilidade. Seu Yolando, com “Y” como revelou, deu início a sua história em narrativa bem detalhada e emocionada.

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            “Por volta de 1949”, meu primeiro trabalho foi de representante comercial pela Bayer, onde aos 19 anos, na tarefa estabelecida, a minha praça de ação partia de Barra do Pirai (RJ) a percorrer toda a região, em que o trem era o melhor meio de transporte e apoio. Recordo-me que pelo menos duas vezes por semana, utilizava-me desse ramal férreo tendo na localidade de Conservatória o referencial logístico a atender inúmeras fazendas. Lembro que sempre me valia do expresso das 6,45 hs, cuja locomotiva era esta, a 206. Foram quatro anos percorrendo esses trilhos (hoje extintos) com lembranças indeléveis de momentos que marcaram a vida. Porém, o que me atraiu aqui quase sessenta anos depois, foram fotos tiradas por amigo que aqui esteve em excursão, às quais me emocionei ao ver a Maria-Fumaça 206 preservada em monumento à praça. Confesso que o passado veio à tona, trazendo lembranças da minha saudosa e inesquecível mulher Zilda, onde tudo começou. A utilizar-se do lenço em seu semblante e aos olhos que passaram a lacrimejar,  deu uma pausa, pigarreou, e então se pôs a narrar.

            Por ocasião da 1ª viagem, lá estava eu sentado à poltrona do vagão, a apreciar as belas paisagens interioranas, quando de súbito uma bela jovem de tez acaboclada, com longos e negros cabelos, portando uma cesta, me oferece balas de leite. Ao olhá-la, seu olhar tenro de sorriso suave, confesso me encantou, fazendo adquirir suas balas. A partir de então, com a constância dos encontros, nasceu uma amizade na qual passei a sentir algo além da amizade, ou seja; estava apaixonado!

            Numa manhã, tomado de ansiedade por encontrá-la, depois de um fim de semana, para minha tristeza não apareceu. Amargurado, desembarquei em Conservatória e para felicidade, a surpresa; ao vê-la sentada num banco da estação. Com o coração aos pulos, fui à sua direção e a senti desolada sem o sorriso de doçura peculiar e mais; sem a cesta de balas. Mostrando-me ao seu lado duas surradas malas, ergueu-se me abraçando a dizer em prantos, que há dois dias esperava por mim desesperada e sem rumo, pois sua madrasta havia a expulsado de casa, ou melhor, escorraçada, a passar as noites  neste incômodo banco na plataforma e degustar poucas guloseimas, que conseguiu comprar, objetivando alimentar-se nestes dois dias de muita tristeza e apreensão aguardando minha  incógnita chegada.

            A partir de então, sob fiéis juras de amor, após dois meses, tornaram-se oficial perante testemunhas no cartório de Valença; marido e mulher em 1949. Foram 52 anos de amor doce como balas, 2 filhos e 4 netos de muita doçura de uma vida, onde o amargo nunca existiu...

            Agora, aqui, frente a frente com Maria-Fumaça 206, que silenciosa, estática e fria ornamenta o logradouro, trazendo, a poucos, recordações pela chaminé do passado as fagulhas de um amor ardente que aquecem a história.

 Agradecendo, seu Yolando nos deixou, levando consigo a fagulha de anos do seu passado e, que hoje, a saudade fez reacender por ser resistente e verdadeira... Um exemplo de Amor, cujo trem não deixou ser  o  cupido nesta bela história de Yolando e dona Zilda..

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