*Por Luís Cláudio de Carvalho
Fenômenos naturais acontecem de tempos em tempos. Fenômenos eleitorais também são esporádicos. Quando surgem, dificilmente têm uma explicação exata. Não há nada que se possa fazer contra eles. As consequências nunca surgem em curto espaço de tempo. Às vezes, elas demoram anos para surgirem. Geralmente, fenômenos eleitorais não se tornam fenômenos administrativos. Esses são bem mais raros.
O primeiro fenômeno eleitoral que tenho lembranças apareceu no final da década de 1980. Um jovem “caçador de marajás”. Fernando Affonso Collor de Melo, até nome pomposo tinha, era governador de Alagoas e se auto propagou como sendo o homem que cortou os altos salários de autoridades e ex-autoridades de seu estado. Oriundo de um estado minúsculo, em uma das regiões mais pobres do país, em um partido recém criado (Partido da Reconstrução Nacional – PRN), sem fortes aliados e sem tempo de TV, foi eleito presidente da República. O final, todos sabemos.
Outro fenômeno, e esse acompanhei bem de perto, foi Clóvis Aparecido Nogueira, o até hoje popular Nega Veia. Foi charreteiro, dono de forró e de restaurante (vendia comida a um real e era um sucesso), além de apitar jogos de futebol e participar de tudo quanto era festa. Foi lançado na política, já como candidato a prefeito, por um candidato a prefeito que queria atrapalhar outro. Quase ganhou a eleição. E aí animou. Em 1996, tendo como candidato a vice um ex-adversário, o médico e ex-prefeito José Celso Garcia, foi o maior fenômeno da história política de São Lourenço. Qualquer coisa que ele falasse era aplaudida pela maioria da população, de todas as classes sociais. Chegou ao cúmulo de em uma apresentação, na antiga Faculdade Santa Marta, após seus concorrentes exibirem seus impecáveis planos de governo, ele dizer: “não tenho plano de governo, isso não adianta nada, depois que elege faz tudo diferente. Quando chegar lá,vejo o que faço.” Foi ovacionado. Foi eleito com estrondosa votação. A vontade de votar no Nega Veia era tanta que, naquele ano era a estreia das urnas eletrônicas nas eleições municipais e primeiro se votava para vereador, chegavam lá e digitavam o número dele (25) e o voto caía pra legenda, puxando um vereador só com esses votos. E alguns menos avisados saíam reclamando que não apareceu a foto do Nega Veia na urna. Em 2000, foi reeleito. O que aconteceu a partir daí também é desnecessário relembrar. Outros fenômenos surgiram na história política contemporânea, sendo o mais recente o palhaço Tiririca, que dispensa comentários.
Atualmente, estamos diante de um fenômeno eleitoral: Jair Messias Bolsonaro. No primeiro turno das eleições, nada e nem ninguém conseguiu impedir seu grande desempenho eleitoral. Caso a expectativa de sua eleição se concretize, espero que, ao contrário de outros fenômenos, seu surgimento traga boas consequências. Não precisa nem ser um fenômeno administrativo. Se conseguir fazer o país voltar a se desenvolver já está de bom tamanho. Em tempo, em nenhuma vez votei nos fenômenos citados acima.
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