Vínhamos de um roteiro turístico que incluía várias localidades do sudoeste de Minas, quando resolvemos adentrar a cidade cujo nome sui generis nos despertou a curiosidade e foi realmente sugestivo, Passa Tempo. É um lugarejo igual a tantos outros deste Brasil, cuja economia é baseada evidentemente na agropecuária, café e frutas regionais, enfim nada de especial que chamasse a atenção a não ser o nome da cidade. Todavia optamos por descansar um pouco e, decidimos permanecer no local ficando óbvio, sem trocadilho, há passar o tempo.
Um hotelzinho modesto, porém, extremamente simpático, aconchegante e limpo principalmente, foi o que encontramos para nos hospedar depois de condignamente recepcionados pela proprietária. As instalações, com mobiliário antigo, até que nos surpreendeu tal o bom gosto na decoração. Zelosa, a senhora nos acompanhou aos aposentos e cada vez mais nos cativava com a fala mansa e pausada daquele sotaquemineiro bem característico. O quarto arrumado e limpíssimocom banheiro em ambiente perfumado tornava aquela “suíte” verdadeiramente convidativa.
À noite após um jantar farto, caseiro e, depois de um passeio na cidade pela praça da matriz objetivando “passar o tempo” a digerirmos a gulosa refeição, retornamosao hotel e ficamos assistindo mais um capítulo da novela das 21:00hrs.
Embora com poucos hóspedes na maioria profissionais viajantes, sendo alguns residentes, o ambiente num todo era distinto e agradável, e a comunicabilidade entre todos era surpreendente e interessante. Entretanto, havia um cidadão que pela irreverência e espontaneidade demonstrada em quase tudo que dizia e fazia, inclusive sendo até muito engraçado, que se destacava entre os demais.
Na nossa segunda noite, porém um fato inusitado ocorreu. O referido cidadão gozador, no meio da noite nos acordou, bem como a parte dos hóspedes, devido ao ruidoso escarcéu provocado pelo acesso de tosses, ânsias de vômito e falatório. Pela manhã soubemos do motivo de tanta agitação. Ao acordar de madrugada, resolveu beber água, utilizando-se de moringa de barro à mesinha de cabeceira. Sonolento colocou a água no copo sob a fraca luz do abajur e, num gole a ingeriu retornando a dormir. Não demorou muito, sentiu um estranho movimento no estômago, a cada segundo mais frequente. Assustado ergueu-se da cama pressionando a barriga com as mãos e dirigiu-se ao banheiro tentando “botar a carga ao mar”, o que ocorreu entre ruidosos esforços. Entre tanto ao olhar no interior da pia, ficou paralisado ao observar à presença de uma perereca, que num salto foi para o chão do banheiro!
Saindo porta afora tossindo muito, e gritando, o gozador procurou o vigia da noite para que o levasse à Santa Casa a fazer uma lavagem estomacal, pois achava que o batráquio era envenenado e o seria fatal.
Moral da história: Todo gozador tem certamente seu dia de gozado, até por uma “gozadora e irreverente perereca”.
Ah... Esses “turistas observadores em passa tempo”, que tem sempre algo pitoresco a contar, mesmo que esses fatos possam suscitar dúvidas quanto a veracidade, são realmente incríveis e pitorescos. Essa crônica, na ocasião que foi editada e por solicitação do proprietário do hotel, o remetemos dois exemplares dos semanários; um no jornal da região de serra Azul, sul fluminense e outro de Volta Redonda, o qual nos agradeceu e solicitou se poderiam colocar as crônicas em destaque à portaria do hotel. O que autorizamos e posteriormente quando lá retornamos anos depois, tivemos o prazer de verificar o fato. Segundo nos narrou o proprietário, este episódio vem sendo até hoje admirados por muitos e contestados por alguns que duvidam que tenha verdadeiramente acontecido...
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