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O “Humos” do Minhoca da terra
Em determinada ocasião, desfrutávamos do interessante turismo ao norte fluminense e resolvemos estender até a cidade de Raposo, no intuito de comprar confecções de vestuário em linho, bem como lingeries, cujos preços são bastante convidativos à aquisição. Porém, por ter existido certa dificuldade à hospedagem em Raposo, optamos pela cidade de Eugenópolis, MG, há 8 km, onde nos hospedamos numa pousada, que por sinal manteve-se lotada, tal a afluência de pessoas que tinham o mesmo propósito: ir às compras. O hotelzinho de pequeno porte - por ser estruturalmente incipiente em termos de lazer aos hóspedes, afinal a cidade não dispõe de atrativos turísticos para que pudesse justificar um investimento hoteleiro mais abrangente - oferecia como principal atrativo, ao final de tarde atrações interessantes e chamativas como: Torneios de xadrez, buraco, damas, etc....
Na tarde da nossa chegada iniciava-se um torneio de damas, cuja premiação era um conjunto de linho a ser adquirido em qualquer artesanato da cidade. Um casal que desfrutava do convívio no hotel, que por sinal bem comunicativo, muito embora o cidadão se apresentasse um tanto superior sobre os demais hóspedes, dado talvez por ser um “físico” e professor Universitário da UFRJ -- o que de certa forma não justificaria tal presunção --- foi o primeiro a se inscrever. Eu obviamente como apreciador do passatempo o fiz e, como à grande maioria o fez. Nós conseguimos atingir a semifinal. Mas a sensação de fato ficou por conta do “professor da UFRJ” que atingiu a final sem que perdesse uma partida se quer. Vencedor absoluto, vangloriava-se do feito, esnobando sua intelectualidade perante todos, numa superioridade até deselegante, quando um cidadão, “minhoca da terra”, charreteiro que ali viera a deixar uma encomenda, pessoa humilde, simples e se chega ao vitorioso a cumprimentá-lo. Mesmo com seu ar de desdém, agradeceu o cumprimento. Entretanto o que ele não esperava, é que o modesto cidadão o convidou à uma partida. Olhando-o com um sarcástico sorriso, ocupou a mesa convidando o desafiante a sentar-se. Vieram as surpresas: perdeu a primeira em menos de 10 minutos. A segunda tornou a perdê-la, bem como a terceira. Inconformado, propôs elevar o jogo a 11 partidas, no que aceitou o “minhoca”. Com pouco mais de hora e meia, o charreteiro com o placar final de 9x2, pedindo desculpas, elevou-se da mesa apertando a mão do físico, o agradeceu por participar do lazer.
Moral da história: É óbvio que o preparo, o nível cultural, a inteligência, são fundamentos primordiais a exercermos qualquer tarefa, atividade profissional ou não, a qual tomamos parte na vida, bem como nos favorece inevitavelmente quando desconhecemos determinado assunto, que pelas circunstâncias somos obrigados a participar. Entretanto estas qualidades nunca nos dão o direito de menosprezar e humilhar o semelhante, cuja inferioridade mesmo significativa se evidencia de maneira notória, por gama de razões...
Ah... Esses “turistas intelectos” quando tem a sua superioridade obscurecida por um gesto ou um ato simples de humildade proporcionando, involuntariamente, por uma “inteligência desprezível”, tornam-se alvos prediletos de boas gozações e nos oferecem momentos altamente pitorescos...