Leitora incrédula... Vira personagem!
Na rodoviária Novo Rio, exatamente às 7 horas, lá estava eu acomodado à poltrona 27 do confortável ônibus, que me conduziria a Cidade de Paty do Alferes (RJ), quando ao meu lado senta-se uma mulher, pra lá de balzaquiana, que após colocar sua bagagem no bagageiro superior, educadamente, pede licença e senta-se, acomoda-se, reclina a poltrona e retira da sacola que foi colocada no cabidinho à lateral da poltrona, o exemplar do Semanário Panorama Regional, que aos finais de semana é distribuído graciosamente aos passageiros das suas linhas regulares. Passa os olhos nas fotos lê as chamadas das reportagens à primeira página e em seguida vira o tabloide a última página, em que o espaço total é a crônica “Esses Turistas Pitorescos”, a posicionar os óculos dando seguimento a leitura.
Diante da sua preferência, claro, a observá-la discretamente a fim de conhecer as reações perante o que lia, afinal eu era o pai da criança, ou melhor, o cronista autor da crônica, e, aquela semana narrei o episódio sobre “o vaso sanitário que explodiu”, mantive-me à espreita tentando imaginar e, lógico, visualizar suas reações.
A coroa, entretida na leitura, limitava-se a franzir a testa e elevar as sobrancelhas, até que finalmente emboçando leve sorriso meneou a cabeça e, olhando-me diz: -- Qual, este cronista tem cada uma... Por acaso o senhor já teve oportunidade ler uma de suas crônicas?
Àquele momento em diante passamos a conversar e o assunto versado era sobre as crônicas. Ela achava impossível uma pessoa assimilar à memória, tantos fatos não só humorosos, como às vezes até bem dramáticos envolvendo os turistas. Será que são episódios verdadeiros ou apenas fruto da inventiva imaginação?
Na parada do ônibus em Arcádia, -- lugar que se tornou famoso à década de 60 pela proximidade do ocorrido assalto ao trem pagador articulado por Tião Medonho -- saltamos e a coroa incrédula, se foi à direção dos toaletes.
Transcorrido o tempo de parada, já acomodados às poltronas começamos a seguir viagem serra acima. De repente, observando-a achei um tanto diferente. Confesso que não atinei o que havia, mas que algo existia não tinha dúvida. Passado alguns minutos, a coroa retira da bolsa um pequeno estojo, abre-o e ao olhar o espelhinho, solta um sonoro ”OH!” e passando a mão à cabeça exclama; -- Meu aplique, esqueci no toalete! Como pode isso acontecer, minha nossa!
Sem dar a perceber, indaguei o que aconteceu e, um tanto desarticulada, contou-me a desventura, dizendo-se que por sorte não tinha o seu José Luiz Ayres por perto. Chegando a cidade de Miguel Pereira (RJ), ao preparar-se a descer, peguei um exemplar do semanário, que trazia comigo, e fiz uma dedicatória à base da crônica, que ao lê-la, se espanta: -- O senhor é o cronista ? Por favor, omita o meu nome no fato ocorrido. Agora não tenho dúvidas quanto à veracidade das suas crônicas. Desculpe mais uma vez pela descrença...
Moral da história: Não precisamos ser feito São Tomé para acreditar naquilo que não vemos, ou nós passado através de informações, leituras, etc... O saber acreditar é um dom que possuímos até que prove em contrário e à dúvida pode ser às vezes um recurso quando não nos julgamos incapazes.
Ah... Esses “turistas São Tomezianos” que só creem naquilo que veem, mas quando se tornam personagens reais, quase sempre nos gratificam com instantes pra lá de pitorescos... Não é assim dona... ((respeitei sua credibilidade )?
Embora sendo eu um cronista, não poderia deixar de mencionar este episódio, entretanto, mantive minha palavra, evitando expor o seu nome...
PS: Conseguiu recuperar seu aplique?
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