Monsenhor Barbosa e a letra “P”
Depois de realizar dois batizados numa fazenda próxima a Parapeuna, RJ, Padre Barbosa conduzindo na charrete da fazenda juntamente com uma mulher grávida, a qual se prontificou a acompanhá-la até o Hospital de Valença, RJ, dada às primeiras contrações que já se manifestavam, chegaram à estação onde permaneceram a aguardar o expresso das 13 horas. Acomodada a um banco, a tal mulher dispôs-se a conversar com Padre Barbosa. Entre as contrações, onde se mostrando visivelmente nervosa e assustada, clamava a Deus por interseção do sacerdote, para que rezasse por ela a ser bem sucedida na sua hora e que o Senhor desse ao seu rebento muita saúde nascendo perfeito. Padre Barbosa ao seu lado, encorajando-a com palavras alentadoras de amor e carinho a tranquilizá-la, acarinhando sua face com afagos a enxugar sua testa salpicada de gotículas de suor, a dizer, bem contrito, que tudo está de acordo com os desígnios e a vontade do Pai.
De súbito, no horário, chega o trem e Barbosa com interferência do chefe da estação, solicita do chefe do trem um lugar onde a parturiente pudesse dispor de um mínimo conforto, vez que seu bebê estava prestes a vir ao mundo e até Valença demandava algum tempo e as contrações se faziam menos espaçadas.
Já no expresso, sob as vistas atentas de Padre Barbosa e de uma mulher que se prontificou a ajudá-los, seguia o trem no seu rumo e velocidade a parar às pequenas estações das localidades servidas, cujas paradas pareciam uma eternidade, tal a tensão e preocupação pela pobre parturiente, cujas contrações e dores já continuadas aumentavam. Quando de repente, Padre Barbosa tem sua batina e hábito alagados pelo rompimento da bolsa d’água. Aturdido e um tanto assustado, com o auxílio da mulher que os acompanhava, depois de retirar o hábito sobre a batina e estendê-lo ao chão do corredor entre as poltronas, amparando-a, a deitou pedindo que dobrasse os joelhos e elevasse as vestes à altura do peito. Apoiada a cabeça pela ajudante a incentivá-la a fazer força e a flexioná-la curvando a parte superior do corpo à frente a pressionar às costas, de súbito sobre “urros”, a mulher que tinha as pernas seguras pelo Padre Barbosa, começa a expulsar seu bebê, no que o deixou desatinado perante a cena e, mais que depressa ampara a criança que em movimento contínuo vem à vida. Com o bebê nas mãos, Padre Barbosa retira da sua valise o vidro com água benta e alguns paramentos a envolver a criança que chorava, a solicitar da ajudante que limpasse a lâmina do seu canivete com água, para que pudesse cortar o cordão umbilical.
Com a criança, um robusto menino, sobre o peito da mãe que o afaga a beijá-lo, Padre Barbosa ainda sobtensão e emocionado agradece a Deus pela graça que o destinou, enquanto a ajudante, comovida, preparava com os parâmetros disponíveis, passados pelo sacerdote, agasalhar o bebê, onde sob choro de felicidade a mãe beijando a mão do padre o agradecia por tê-la assistido no parto, que guiado por Deus, em segurança, tão bem se houve amparando seu filho, a dizer que daria o nome de José Barbosa em homenagem ao seu digno gesto de nobreza.
Já acomodados sobre as poltronas, mãe e filho recebiam o carinho de Padre Barbosa a ouvir da ajudante, que não se preocupasse com os paramentos, inclusive o habito, que os deixaria limpos, passados e engomados na sua paróquia em Rio das Flores.
Seguia o expresso, com o apito do trem acionado, além do costume, claro, a saudar o nascimento, após o aviso passado pelo chefe do trem ao maquinista, quando a mãe em gesto sublime e humilde, indaga a Padre Barbosa se não poderia batizar o filho àquele instante e ser ele também o padrinho juntamente com a madrinha, a mulher que o ajudou, já que havia pela manhã efetuado dois batizados. Ficaria feliz em ter seu bebê se tornado um cristão ao chegar ao hospital não sendo mais pagão.
Sem poder negar tal solicitação, embora desconhecesse a pratica em ser um celebrante ao mesmo tempo padrinho, professou a cerimônia, cuja certidão seria homologada; no que ocorreu, pela apreciação da arquidiocese.
Ao chegar o trem em Valença, amparada por Padre Barbosa e pelo chefe do trem, foi providenciado um veículo que os conduziu ao hospital. A partir de então, Maria de Lourdes e José Barbosa; seu filho, regularmente visitava padre Barbosa em Rio das Flores, inclusive, após anos deixar o local, a servir à cidade de Barra do Piraí, RJ.
Emocionado, já como Monsenhor Barbosa, mostrou-me algumas fotos do afilhado e, entre todas as que mais o emocionava, é aquela aonde junto à locomotiva 206, com bela e tocante dedicatória, José Barbosa vem fazendo menção por ter sido; amparado, cuidado, assistido e batizado no momento tão sublime de sua vida; o nascimento no interior de um trem, e o tem e reconhece como pai, pois seu pai biológico é desconhecido. Monsenhor Barbosa conforme revelou, tinha pela letra “P” certo carinho, por ter sido: padre, parteiro, padrinho e pai! Pois Maria de Lourdes registrou seu menino como filho de José Barbosa...
Comentários: