Nada como falar demais... Atrai consequências.
À cidade de Raposo ao norte fluminense, estância hidromineral famosa pela excelente qualidade e indiscutível teor medicinal das suas fontes de aguas minerais, principalmente a do tipo magnesiana, o Hotel Fazenda se apresentava bem concorrido em termo de hóspedes naquele carnaval. O hotel por tradição além das ótimas e amplas instalações, possui uma área de lazer por excelência a proporcionar uma gama de divertimentos aos seus turistas. Pelo menos era assim que este hotel fazenda nos brindava quando ali curtíamos nosso lazer.
Embora houvesse certo congraçamento entre as pessoas, era normal existir pelas idades certa reserva quanto ao comportamento de cada um, em que normalmente os jovens desfrutavam dos jogos de quadra, futebol. Os quarentões já maios moderados quanto aos jogos davam preferência pelas piscinas e bares. Quanto aos cinquentões e parte da terceira idade, as opções ficavam às caminhadas matinais, parque das aguas, passeios de charretes e nos papos às sombras das frondosas árvores e no eterno carteado às mesas ali expostas espalhadas sob deliciosa e magnífica ramagem das árvores seculares.
Dois casais de cinquentões que invariavelmente às tardes se reuniam para o jogo de buraco, não se mostravam muito simpáticos dado estarem sempre a criticar o procedimento das pessoas e suas atitudes, inclusive reclamando sistematicamente do barulho de uns carrinhos tipo gaiolas, a motor de gasolina, que eram alugados aos turistas a partir de toda a tarde, cujo trajeto se fazia ao longo da extensa alameda de bambu que acessa ao hotel até a praça fronteiriça seu ponto de partida.
Além do barulho do motorzinho, proferia críticas veementes aos pais por permitirem a seus filhos se utilizarem dos veículos. As pessoas que ali jogavam, próximo aos casais rabugentos, limitavam-se a sorrir das atitudes implicantes ditas pelos encrenqueiros. Nós que sempre curtíamos o agradável ambiente quando não estávamos a participar do carteado nos nossos jogos de canastra, tranca, escopa e outros, tínhamos nos carrinhos nossa diversão a percorrer a alameda sob máximo cuidado, já que a alameda era o caminhar de muitos hóspedes em direção a cidade, digo; centrinho da bucólica localidade.
Num dia, não entendendo nada, uma surpresa... Os dois cidadãos eram vistos pilotando as “gaiolas” estampando às fisionomias com maiores expressões de alegria e contentamento, como crianças fossem, a dar adeusinho as suas mulheres que sentadas apreciavam as visagens dos ditos rabugentos. As pessoas ao verem, perplexas, ficaram a observá-los atentamente. De súbito, ao retornarem do contorno à praça, os veículos posicionava-se lado a lado, quando no instante ao passarem onde suas mulheres se encontravam, pelas rodas dianteiras se tocaram e perdendo as direções, cada um foi para um lado diferente. O menos rabugento, se chocou com um pequeno arbusto. O outro, por ironia do destino, veio de encontro justamente a mesa a qual sempre se ocupava nos jogos de buraco, ocasionando a avaria total do veículo e lhe proporcionando além do prejuízo material, um “simpático” galo à testa e outras pequenas escoriações no joelho e às mãos.
Moral da história: Nunca devemos reclamar ou criticar daquilo que intimamente temos vontade de fazer, pois poderemos nos tornar vítimas de nossas próprias palavras quando tentamos fazê-las...
Ah... Esses “turistas rabugentos” que vivem a reclamar e criticar de tudo na vida, quando nos oferecem momentos para que possamos gargalhar... Que coisa pitoresca após saber que apenas tivemos escoriações nos veículos e prejuízo pelo conserto dos mesmos
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