No “além “, nada além do medo...
Por questão de respeito, princípio e obviamente de ética, me vejo obrigado a omitir o nome da cidade onde o fato inusitado, que relato, ocorreu nos dias atuais.
Na ocasião, comemorava-se o aniversário da emancipação da localidade, com uma série de eventos festivos a serem realizados no decorrer da semana. Nós hospedados num agradável hotel, cuja presença de turistas era bem considerada, passamos num todo a nos integrarmos às festividades. Entretanto entre os hóspedes, havia um grupo de quatro rapazes oriundos de Campinas, SP, que se valendo do porte atlético, vigor, jovialidade e do natural narcisismo estampado, ficava a se exibir endeusando ao “deus Apolo” suas galanteadoras masculinidades.
À manhã de sábado durante o desjejum, num clima confuso e conturbado entre os presentes no refeitório, nos chamou atenção. Curiosos, indagamos do garçom o que havia e nos contou que um dos jovens paulista fora internado na Santa Casa em estado de choque, devido a forte crise de histeria nervosa, dizendo ter se envolvido num caso amoroso com uma “alma do outro mundo”, no que causou um certo reboliço o fato em si, o levando a uma internação hospitalar.
O assunto, no que pese estarmos em pleno terceiro milênio, era dos mais jocosos, afinal como um jovem de cabeça “feita” nos dias de hoje, poderia se deixar levar por tamanha baboseira?
A história do episódio, dada à peculiaridade do fato, extrapolou as raias do hospital espalhando-se como rastilho de pólvora, e, rapidamente, ficamos sabendo da verdade, como todos os hóspedes no hotel a tornar aquele ocorrido num verdadeiro “prato cheio”.do contra e a favor do sobrenatural
O rapaz havia conquistado uma bela morena, caracterizada como “minhoca da terra”, durante as festividades noturnas e passaram a “ficar” todas as noites. Na sexta-feira, madrugada alta, resolveu acompanha-la pela primeira vez até a casa, já que a moça sempre recusava por achar desnecessário. No percurso a garota, um tanto sem jeito, tentou dissuadi-lo no seu intento. Embaraçada, sem conseguir seu objetivo, dada a insistência em acompanhá-la, resolveu revelar-lhe que morava no cemitério, e, por isso foi gozada pela sua criatividade e foram seguindo à caminhada dentro do negrume da noite aos sons dos coaxas, cricridios, e a gama de outros ruídos notívagos. Óbvio que o rapaz atribui sua revelação, a evitar que a seguisse até sua moradia tentando desencorajá-lo.
Não tardou, sob um lampião cuja luminosidade insipiente mal dava para enxergar o caminho chegam a uma capelinha, e, após abrir o pesado portão de ferro em que o ruído estridente se faz presente naquele silêncio, galgam os degraus da escadaria e, no patamar, a moça tentou se despedir, mas o rapaz olhando ao redor, indagou aonde era a sua residência, ao que ela apontando a um escuro corredor lateral a orada, disse: - É ali, O jovem mesmo reticente, mas tomado pela curiosidade, caminhou à direção apontada, penetrou no tal corredor e deparou-se ao fundo com outro portão de ferro onde se lia: CEMITÉRIO.
Assustadíssimo, desesperado e em desabalada carreira retornou, passando pela amada, desceu a escadaria aos saltos e sumiu estrada abaixo, engolido pela escuridão só parando no hotel, onde, fora de sí, transtornado, foi socorrido desmaiado conduzido a Santa Casa.
Afinal a explicação era simples: a moça era filha do administrador e coveiro do cemitério que residia numa casinha ao lado da capelinha...
Moral da história: Por mais que se mostre descrença no sobrenatural, um dia o medo fará com que a imaginação fantasmagórica ressurja mesmo para ”destemidos” contumazes...
Ah... Esses “turistas galanteadores” que vivem a apregoar predicados de machões irresistíveis, mas ao verem-se diante do medo e se tornam uns frouxos, são de fato uns fracos de espíritos de almas bastantes penadas a nos propiciarem momentos bem pitorescos... Mas por outro lado, lamentamos pela garota que perdeu o dito galanteador...
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