Azarento quebrou o encanto...
No que pese o verbete “Azar”, tenha uma conotação, dita por alguns, de carma em suas vidas de forma inconteste, achando-se por não ser embalado pela sorte, dai se considerar um azarado, neste episódio o qual o transformo em crônica, ocorrido por ocasião em que curtíamos a simpática cidade de São Fidelis à região noroeste do Estado do Rio de Janeiro, que veio comprovar que tal coisa não tem nada a ver deste dito presságio.
Por coincidência, ao chegarmos à cidade de São Fidelis, em que apenas pretendíamos pernoitar ou mesmo aproveitar a conhecê-la, já que nunca ali estivemos e até nos surpreendeu pela estrutura local apresentada, onde o movimento do comércio fazia-se presente, e que por “sorte”, contrariando nossos preceitos em alongar nossas estadias, era aniversário da cidade no próximo dia de 27 de setembro, onde se comemorava seus 237anos. Após um jantar bem guloso em uma pizzaria, de retorno ao hotel, solicitamos à portaria a nossa extensão das diárias, em que abrangeria o final de semana.
O propósito de estendermos nossa estadia, era no intuito de assistir a festa programada para noite de sábado, de música sertaneja em que ,importantes duplas se fariam presentes na praça da cidade. Na manhã do dia seguinte, após o desjejum acompanhado do cidadão tricordiano, de acordo com o que dizia, e, que habitualmente comparece a esses eventos em festejos das localidades, a nos mostrar o andamento e o movimento na cidade que tem o hábito de frequentar, quando galgamos a calçada da rua, um carro de som anunciava o importante Bingo na Praça da Matriz, onde o prêmio maior era um auto FIAT Pálio, cujas cartelas poderiam ser adquiridas o dia todo no local do evento até as 20horas. O tricordiano que nos acompanhava nesse passeio, então resolveu falar, a dizer que não adiantava comprar as cartelas, por se considerar um azarado e nunca havia sido bafejado pela sorte nem que fosse por uma bijuteria.
Chegando à praça, depois da visita a Matriz de São Fidelis Sigmaringá , por sinal belíssima, sendo comemorado o dia no mês de 24 de abril. Procurei o local na aquisição das cartelas do bingo e por R$25,00 adquiri o conjunto de 5 unidades, uma a cada premiação. Indagando do companheiro tricordiano se não ia participar. Com sorriso um tanto amarelo, limitou-se a dizer que não, pois se considerava um azarento, não abrindo mão da sua intransigência com relação a dita sorte.
De retorno ao hotel, após ter sua companhia no restaurante onde degustamos um excelente bife a cavalo com um delicioso feijão carioquinha, bem brasileiro, quando nos aproximávamos do hotel, somos surpreendidos por um gato preto, que saindo de um porão de velha e tradicional residência centenária, a nos fazer recuar, e ter o nosso companheiro a pular para rua a espantar o bicho que, ai sim assustado, sai em disparada. Benzendo-se com o Sinal da Cruz, balbuciou algo imperceptível como querendo se bendizei sobre possível agouro. Seguindo o caminhar, tentei persuadi-lo, dizendo sobre quem sabe aquele gato preto o traria a sorte no bingo, a quebrar o estigma que ele tanto apregoa como azarado. Contrariado em sua crença, depois de tanto falarmos e estimula-lo a adquirir as cartelas, no que entramos no hotel, na sala de estar um aromático e cheiroso café se espalha e nos obrigou a degusta-lo. Aproveitando o ensejo, brinquei a dizer que o preto do café estimulava as compras das cartelas do bingo.
De repente, virasse e diz: Sabe de uma coisa, vocês estão certos. Vou voltar à praça e comprar as cartelas, tchau, vejo-os a noite as 19horas.
À noite, a praça estava lotada, a rodada da final do Bingo estava prestes a se iniciar, com o cantador das pedras a dizer que cantaria bem devagar para não suscitar alguma dúvida e as repetiria dando tempo para se verificar as cartelas. Pedia então o apoio de todos fazendo silêncio... Iniciada, com a mão fazendo rolar o globo aonde as bolas com a numeração de 01 a 99 se encontravam, cai a primeira, 22. O cantador anuncia a dizer depois dois patinhos na lagoa. E assim seguia o bingo dentro de um incrível silêncio, vez por outro quebrado num sussurro por alguém que raspou no número solicitado a fechar o jogo que fora cantado.
De súbito ao nosso lado, um berro ecoou como uma bomba estivesse explodida... BINGO GANHEI... Depois de o cantador dizer e sair no som das caixas espalhadas à Praça: a fazer alusão ao dia 13, àquela Sexta-feira, olhando a ver de quem era os gritos, não deu outra. Era o nosso tricordiano, que no dia 13, as 13horas, depois importuná-lo durante o regresso do almoço, e escutar nosso papo do café, e ter o gato preto a cruzar sua frente, dignou-se adquirir as cartelas, mesmo a dizer que era e sempre foi um azarado...
Moral da história: A crendice, a superstição, são atos negativos criados em nossos conscientes, os quais indubitavelmente nos fazem acreditar que possam interceder em nossas vidas. Mas na verdade concorrem sim, em definitivo desse irreal negativismo... Ah... Esses turistas supersticiosos que vivem a referenciar a superstição, temerosos e convictos dos azares, quando a sorte os bafeja a superar esse pessimismo, tornam-se uns sortudos bem pitorescos...
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