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Domingo, 15 de Setembro de 2024
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O desafeto e depois...O afeto

Foi costurada a amizade

José Luiz Ayres
Por José Luiz Ayres
O desafeto e depois...O afeto
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O desafeto e depois... O afeto

                  Luiz Ayres, meu inesquecível e saudoso pai, em determinada ocasião, retornava mais uma vez de sua estafante e exaustiva jornada profissional, após semanas de visitações aos seus amigos comerciantes   pelo interior mineiro, de mais uma bem sucedida etapa de boas vendas, a bordo do trem a caminho do Rio de janeiro procedente de Alfenas e chega ao entroncamento ferroviário em Ibatuba, (atual cidade de Soledade de Minas) no intuito de baldear-se ao expresso de Três Corações rumo a Cruzeiro, SP.

                  Depois de retirar suas canastras de mostruários no vagão de cargas, adquirir nova passagem e proceder à expedição das canastras, após um café com broa de milho, ocupa-se de um dos bancos à plataforma e ficar a curtir a movimentação da estação, cujo  trânsito de pessoas mantinha-se bem expressivo. Afinal ali era um entroncamento a atender a três ramais férreos.

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                  Com o tempo passando, já que o seu embarque previa duas horas de espera, absorto a apreciar a tudo, de repente vê no quiosque do café, aquela figura do velho conhecido cidadão, de nome Armênio, trajando um dos seus surrados paletós de linho perolado, bem como sobre a cabeça o castigado chapéu branco a conversar com uma mulher, que pela gesticulação demonstrava que algo de anormal ocorria, pois a mulher sempre a menear negativamente a cabeça, mostrava-se furiosa. Observando aquele momento conflituoso por possível desentendimento, a mulher tenta segurar um volumoso embrulho sobre o balcão, mas Armênio a contém, empurrando-a, que desequilibrada e trôpega se apoia no quiosque. Diante da cena covarde e talvez com receio do ato praticado ter repercussão, o “coroa” retira do bolso do paletó sua carteira a sacar algumas cédulas e tenta entregá-la, que irada se recusa em receber. Num gesto abrupto, retira de sobre o balcão o embrulho e empunhando sua pasta, segue apressado com a mulher a segui-lo, tentando detê-lo a puxar o paletó. Só que ao se introduzir no toalete, a mulher deteve-se permanecendo à porta a lamuriar-se.   Visivelmente irada, retorna e vem sentar-se ao banco onde Luiz se encontrava. Apreciando a confusão, Luiz a indaga da “desassossegada criatura” o que o velho Armênio a deixou tão contrariada. Com um ar de espanto pela indagação, ela retruca: -  Você o conhece este safado? Pois é, ele comprou a máquina de costura que era de minha avó em troca de uma nova e não cumpriu com a palavra, dizendo que compraria uma nova no Rio de Janeiro, já que em Varginha não tinha e quis me pagar em dinheiro, o que não aceitei e quero de volta a minha máquina velha, que se recusa em devolver-me.

                  Ciente da encrenca, Luiz sai à procura de Armênio. Não demorou, já de retorno passou à sofrida mulher o embrulho que envolvia a velha máquina. Abismada, após constatar ser o equipamento, fala: - É esta mesmo moço, como a conseguiu?  Sorridente, Luiz após menear a cabeça lhe fala: - Moça, este homem é bem conhecido por essas bandas cruzando estas estações. Não há ferroviário que não o conheça pelos golpes aplicados aos incautos interioranos, levado por suas lábias e promessas vans. Ele vive disso, pois possui no Rio de Janeiro um depósito de antiguidades, onde revende os objetos adquiridos desta maneira como fez com você. Agora chama-lo de safado, eu não me atrevo, por nunca ter negociado ou adquirido qualquer objeto seu, já que dispenso a sua companhia. Às vezes que com ele cruzo nas estações, está sempre metido em confusões.

                  A mulher de nome Clotilde, como se deu a conhecer, um tanto interrogativa e talvez curiosa, perguntou então como conseguira obter a máquina de volta?  Sorrindo, Luiz diz: - Apenas me apresentei como sendo o seu marido e a exigir que devolvesse o embrulho, pois do contrário o tomaria pela força e não me responsabilizaria pelas possíveis consequências.

Clotilde, já sorrindo, desprovida da tensão que teve, com certa malícia quase de forma sussurrante, diz:- Obrigada moço... Só lamento que o que disse ao safado não seja verdade. Erguendo-se do banco, encara Luiz e o beija na face. Mas, ai sim, sussurra de fato ao pé do seu ouvido: - Que homem bonito você é. Quer se casar comigo?  Deixando o local, lá se foi Clotilde carregando sua máquina, acometida talvez de suspiros de amor e a imaginar por românticos devaneios, a ter Luiz como seu marido!!!

                  Segundo Luiz, foram vários os encontros com Clotilde pelas estações mineiras, a ponto de tornarem-se amigos de verdade enquanto permaneceu na vida de caixeiro viajante. Mas conhecendo, óbvio, sua forma de viver, onde qualidades importantes sempre pautaram na sua postura um tanto  de galanteador, sou obrigado a confessar que foram inúmeros os casos romanescos em sua vida de representante comercial, cujo compromisso matrimonial não fazia parte do contexto...

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José Luiz Ayres

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