O “ecologista” e os sabiás
Integrante do grupo de participantes de um Seminário sobre turismo ecológico regional, como membro, - no que muito me honrou – à cidade sul mineira de Passa Quatro, estávamos nós àquela manhã em plena Reserva do IBAMA cumprindo não só a agenda em pauta prevista debates e palestras sobre o procedimento orientado ao turista e como tornar aquele encontro mais participativo tirando proveito de ser “in loco”, ou seja; ao ar livre, fora do pavilhão convencional, quando na nossa caminhada em direção a cachoeira, um fato extremamente lamentável ocorreu em desacordo com o propósito daquele evento tão significativo.
Disperso e livre das obrigações, o grupo caminhando a aproveitar para cata de detritos ali jogados pela reserva, procurando cada um a dar sua valiosa colaboração à natureza, quando por acaso sem esperar e tão pouco imaginar tamanha absurdez, flagrei, justamente um dos renomados mentores do evento, que destacado dos demais membros, havia se retardado na sua caminhada. Que detrás de uma frondosa casuarina, meio oculto, agachado em gestos agitados, manuseava algo.
Curioso, dada à demora verificada, resolvi retornar a caminhada sem ser observado e, esgueirando-me entre a ramagem, pude ver que cidadão havia aprisionado e deixado amarrado pelas patas com elásticos, preso a uma pedra, acreditem, dois filhotes de sabiás, cuja mãe em voos rasantes tentava em vão resgatá-los. Indignado e perplexo, com muito custo e cuidados, consegui livrá-lo das amarras. Apressado, me uni ao grupo que ia um pouco mais a frente e cheguei ao inescrupuloso cidadão, revelando da soltura dos sabiás. Se fazendo de surpreso, o “cara de pau” se dignou a responder que não tinha nada com isso e que eu havia procedido corretamente. Mas muito se admirava eu o estar acusando de ser o autor da caça dos pássaros e que teria de provar a acusação. Só que não esperava da minha confirmação ao mostrar o par de elásticos retirados de sua pasta de apontamentos, que se utilizou para aprisionar os indefesos animais, no intuito de posteriormente vir a pega-los.
Durante o almoço, fomos comunicados que o tal cidadão, por “problemas pessoais”, havia se desligado do Seminário e pedia desculpa a todos pela ausência inesperada em ter que lamentavelmente nos deixar. Claro que não poderia engolir tamanha desculpa esfarrapada, com medo que viesse a tornar pública a sua insana caçada. O que de sã consciência não faria, mesmo que na sua consciência, como ocorreu, optasse por fugir pela vergonha junto aos ecologistas participantes e, sim, resolvesse encarar o vexame por minha “possível” revelação bombástica.
Moral de história: Abraçar uma causa significa abdicar de coisas e costumes, os quais possam vir de encontro ao efeito por ela produzida...
Ah... Esses “turistas ditos ecologistas”, que não cumprem o que pregam, deixando-se levar por impulsos em atos que denigrem a imagem de uma luta a qual diz defender e, quando são flagrados nos seus intentos de efeitos danosos, não passam de hipócritas a nos oferecerem passagens bem acima do que achamos pitorescas, nos querendo esconder as verdades comprovadas por eles praticadas em detrimento da causa abraçada...
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