O eucalipto que nos desculpe
Àquela manhã, num dos bancos à praça da estação férrea de São Lourenço, pelo jorna observava as manchetes, onde as últimas notícias já conhecidas através dos telejornais da noite anterior limitavam-me apenas a ler aos comentários que me interessavam, quando de súbito, dois senhores que ao banco defronte conversavam, os timbres de vozes aumentam dada a possível divergência que pareceu existir. Dando de “abelhudo”, desviei a atenção da leitura e me pus a observá-los.
Um deles, o mais exaltado e um tanto agressivo, contestava pela negligência dos governos à falta de fiscalização intensa ao desmatamento absurdo que vem dizimando nossas matas e reservas florestais e, sim eximir-se, de culpa este crime ambiental a estiagem que assola o país inteiro como o fator preponderante, não levando em conta a pilhagem desmedida em aferir grandes somas de lucro em detrimento da flora brasileira, alegando, descaradamente, serem as queimadas espontâneas a maior causa da devastação. O outro cidadão, um tanto reticente e exclamativo, tenta argumentar, mesmo concordando em parte, a alegar ser humanamente impossível fiscalizar as florestas por falta do elemento homem, cuja corrupção costuma corroê-lo a tornar-se presa fácil às mãos desse aviltadores madeireiros.
“O cidadão que atacava os governos, olhando à estação aponta e fala:” - Veja você com seus próprios olhos se o que digo não é verdade! Esse trem, por exemplo; é umas das causas a devastação sem fiscalização. Cadê o fiscal do Ibama? De onde vem à lenha a alimentar a caldeira da locomotiva? Não é o que digo? E o tal turismo ecológico? Sei que é importante para o município a trazer recursos, mas afinal quem perde com isso? Esta ABPF (Associação Brasileira Preservação Ferroviária) tem plantação autossustentável?”
O outro sorrindo e a expressar-se de forma até irônica, o responde a dizer que a lenha utilizada são paus de eucaliptos nativos da Oceania (Austrália). Portanto, ilimitado o consumo por não pertencer a flora brasileira e sua reposição é de rápido crescimento tornando seu plantio eficaz a produzir lenha de multiuso também às indústrias. Sem poder argumentar, o homem que impunha seus ataques, mais calmo e não mais exaltado, eleva-se do banco a tocar ao ombro do companheiro e, meneando a cabeça, à direita e à esquerda, diz” - Amigo, vamos adquirir nossos bilhetes para o admirável passeio de memoráveis recordações do tempo que tivemos nessa Maria-Fumaça nossos momentos bem líricos, cuja idade tenta apagar. Mas que graças a ABPF como uma forja acesa, tem nos eucaliptos o combustível a manter vivo o Trem das Águas a nos proporcionar a alegria de viver!”
Confesso que por instantes me vi a concordar com o exaltado cidadão. Afinal por coincidência, lia o comentário exatamente sobre as inescrupulosas queimadas, que a cada amanhecer nos entristece e aterroriza pela desertificação a rondar as futuras gerações. Porem, por outro lado concordo com a alegria de viver... Que me desculpe o eucalipto! Mas somos obrigados a dar à mão a palmatória em reconhecer que esse pequeno passeio nos trás imensas e memoráveis recordações.
Olhando os dois que se encaminhavam à estação, cresceu em mim a vontade de viajar àquela tarde, ao invejá-los, mesmo sendo eu como sou, um inveterado viajante do Trem das Aguas, do Trem da Serra, do Trem de Tiradentes e outros que já tive o prazer de conhecê-los pelo sul do país...
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