O italiano “desastrado”
Retornávamos da cidade de Sertãozinho, SP, àquela tarde com destino ao hotel onde nos hospedávamos, na localidade de Pradópolis, SP, depois de um dia proveitoso, quando um fato atípico nos causou certa apreensão e claro canseira e obviamente comicidade.
A estrada que percorríamos, era dotada em ambos os lados por longos e extensos canaviais, que por vezes invadiam até o acostamento. Embora aquela curiosidade nos oferecesse um visual diferente, nos dava mais atenção no dirigir, pois se tinha a sensação de estarmos enclausurados. De repente ao sairmos de uma curva, avistamos a mais de 200 m, um automóvel estacionado com uma mulher a gesticular. Desconfiados, fomos reduzindo a velocidade e já bem próximo, constatamos tratar-se da esposa do italiano, casal também hospedado no mesmo hotel em Pradópolis.
Ao pararmos, a mulher aflita veio ao nosso encontro nos contando que Pascoale, seu marido, havia penetrado no canavial há quase meia hora à busca do resgate do seu cão Dálmata, que se evadiu com coleira e tudo em perseguição a um furão que circulava no acostamento quando trocavam o pneu. Só que até o momento não retornara.
Dada a preocupação da mulher pela angustia e por estar sozinha, tentamos acalmá-la hipotecando –lhe solidariedade permanecendo em sua companhia. Todavia com o passar do tempo, já quase vinte minutos, achamos mais sensato solicitar o auxílio da polícia, afinal não tardaria o anoitecer e tornar-se-ia complicado localizá-lo naquele imenso e ruidoso mar de canas agitado pelo vento. Quando preparávamos para ir ao encalço da polícia, eis que surge todo sujo e aparentemente extenuado, o Dálmata ressurge do canavial junto a nós. Na expectativa permanecemos ainda um pouco na esperança do ressurgimento do Pascoale. Mas foi em vão, nada do paisano e partimos deixando a mulher e o cão.
Na DP, comunicamos o ocorrido no que prontamente fomos atendidos com uma patrulha se deslocando ao local por nós indicado. Passava das 20 horas, quando o casal voltou ao hotel, com Pascoale todo sujo como um carvoeiro, cheio de arranhões, ferimentos nos braços, nas pernas e mãos, após deixar no canil do hotel o seu inteligente Dálmata que soube retornar ao local exato de onde evadiu-se. Quanto ao seu dono, o italiano, foi resgatado através dos policiais auxiliados pelo cão, andando dentro do canavial a 150 m da rodovia. Só que quase 1Km de onde se encontrava o seu automóvel.
Moral de história: Nunca devemos confiar em nossos instintos, intuitos e certezas, baseado na nossa inteligência e perspicácia, atribuindo que resolveremos os problemas, sejam eles quais forem, nem sempre bem sucedidos, mesmo achando por sermos racionais e que nada será intransponível.
Ah... Esses “turistas desavisados e desastrados”, quando se vêm em situações complicadas e em consequência são obrigados a se curvar diante da realidade contundente, tornam-se presas fáceis de momentos pitorescos demonstrando o quanto são uns “idiotas da objetividade”... Onde se viu, sem nenhum conhecimento, penetrar num mar de canas, imenso canavial, sem ter um mínimo de orientações em como fazer?
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