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Domingo, 23 de Marco de 2025
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O JOCA o mudo vendedor de rapaduras...

A deficiência quase o matou.

José Luiz Ayres
Por José Luiz Ayres
O JOCA o mudo vendedor de rapaduras...
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Joca, o mudo, vendedor de rapaduras...

 

   Um personagem que podemos tê-lo incluso às histórias das ferrovias, que segundo meu pai  Luiz, notabilizou-se por um episódio à década de 30, o qual veio a tonar-se símbolo na cidade de São João Nepomuceno, MG, pelo desaparecimento estranho da estação férrea de forma misteriosa, onde muito conhecido tinha ali, há vários anos seu “negócio” na venda de rapaduras com aquiescência do chefe da estação, por tratar-se  de um deficiente auditivo. Baseado neste ocorrido que na ocasião mexeu com a sensibilidade local e porque não, a todos os munícipes, afinal não só estava sempre sorrindo a demonstrar seu bom humor junto aqueles que a ele se chegavam, tal o seu eloquente estado de espirtuosidade que deixava transparecer, resolvemos transcrevê-lo por esta crônica a merecer nossa citação.

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 Meu pai Luiz, sempre que fazia sua praça comercial, em São João, assim que galgava a plataforma, seu primeiro contato era com Joca, o mudinho, a encomendar suas deliciosas rapaduras, as quais levariam quando ao retorno ao Rio de Janeiro após sua jornada comercial na venda dos seus tecidos. Numa oportunidade ao deixar o expresso e caminhar à direção da administração, da ferrovia, visando deixar suas pesadas canastras durante o período que permanecesse à cidade, estranhou não observar  as cestas de Joca na plataforma, onde costumava  adquirir as rapaduras expostas. No que se chegou, notou a ausência das cestas e bem como do mudinho. Sem poder aguardá-lo foi à procura do chefe da estação a proceder a seus intentos e  soube que o mudinho até àquela hora não havia aparecido, embora suas cestas ali estivessem sem as rapaduras que o chefe resolveu guarda-la e tê-las em custódias. Luiz então deixou com o chefe as encomendas, pois retornaria em  dois ou  três dias depois no regresso ao seu destino.

 

 Três dias se passaram e Luiz ao chegar à estação, abordado pelo chefe, tomou conhecimento que o mudinho continuava desaparecido causando grande preocupação a todos, no que pesem às medidas tomadas como: comunicação ao destacamento policial, expedições inúmeras, de textos pelo telégrafo da estação as cidades circunvizinhas, formações de mutirões de buscas entre seus amigos, enfim fez-se o possível para tentar encontrá-lo, mas até o presente não se conseguiu um paradeiro ou pista.

 

 Um mês se passou e Luiz de volta a cidade São João Nepomuceno. Ao pisar à estação, observava que Joca não se encontrava. Temendo o pior, foi ao chefe da estação que o tranqüilizou ao informar do aparecimento do pobre mudinho depois de “confinado” por quase quatro dias num vagão de carga em São João Del Rey, após ser salvo casualmente por alguém que passou, por acaso, junto à linha onde o vagão estacionara. Escutando um som sussurrante, o cidadão intrigou-se atribuindo ser de gemidos humanos e resolveu abrir a porta, cuja tranca passada à base a trancava externamente. Assustou-se ao ver deitado ao chão aquele homem todo ensanguentado em estado de total letargia. Correndo à estação, comunicou o fato para logo em seguida ser conduzido pela polícia a Santa Casa onde foi socorrido permanecendo internado.

 

 Com a sua recuperação num crescente, já com os ferimentos, principalmente as mãos e pés cicatrizando-se, uma coisa, porém, deixava os médicos preocupados, ou seja; seu estado de  debilidade mental, pois passava o tempo todo alheio a tudo à sua volta, como estivesse desligado do mundo. Obviamente por ser surdo e mudo, coisa não detectada pelos profissionais que dele cuidavam. Além deste detalhe, era semianalfabeto e a comunicação pela escrita não ajudava. Portanto, seu diagnóstico foi dado como amnésia temporária, já que possuía um hematoma à cabeça, e a causa tudo leva a crer. Mas por sorte, novamente por acaso, uma pessoa que ali no hospital fora visitar um parente, ao saber do caso do Joca em conversa como funcionário da ferrovia, aliou o caso ao desaparecimento do mudinho e foi comunicar a direção, o que acabou confirmado com a presença do chefe da estação de São João Nepomuceno seu Alberico.

 

 A seu modo, pela deficiência, Joca contou que àquela noite que sumiu, depois de arrumar suas rapaduras, como o frio era intenso, foi se abrigar num dos vagões vazios de carga. Ao fechar a porta não atinou à posição da tranca externa que se deslocou com o bater forte da mesma e, deu no que deu, só vindo a perceber que estava trancada já com o trem em movimento pelo sacolejar. Assustado, na escuridão, tentou em vão deslocar a pesada porta com o auxilio da força e apenas conseguiu alguns ferimentos às mãos e braços não imaginando estar a porta trancada por fora após batê-la ao entrar. Cansado pelo esforço, rendeu-se ao infortúnio à espera de quando a composição parece. O que mesmo ocorrendo algumas vezes não foi ouvido; no que pesem os socos e chutes à porta a levá-lo ao estresse e ao desespero além da exaustão pelas forças que considerável eram exauridas à medida que os dias iam passando. Com sede, fome, calor e muito debilitado, jogou-se ao chão entregando-se a Deus até ser encontrado.

 

 Chegou à cidade após 25 dias de ausência, numa recepção calorosa a fazer inveja a muita gente importante na época e, para sua alegria, o dinheiro pela venda de suas rapaduras deixadas quando desapareceu, efetuada pelo chefe da estação, seu amigo Alberico.

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