O que é bonito é para se ver
Mais uma vez lá estava eu sentado num dos bancos do aeroporto de Brasília, no aguardo da chamada do embarque do meu bendito voo de retorno ao Rio de Janeiro. Absorto, observava ali, acolá, mais além, quando me detive em três “figuraças”, - sem dúvida turistas estrangeiros pela maneira de portarem-se e nos trajes e aparências – que tentavam-se comunicar junto ao balcão da Cia. Aérea. Notava-se claramente que os três se mostravam um tanto preocupados, possivelmente pela dificuldade linguística natural do idioma.
Finalmente ávidos e sorridentes deixam o balcão e vieram se posicionar ao banco onde me encontrava. Todavia, na minha “campana involuntária” , observei que um deles, o mais velho, rechonchudo de bochechas rosadas, conduzia com todo cuidado uma sacola de lona cujo conteúdo extrapolando, via-se sete cartuchos roliços de aproximados 80cm em papelão compactado, que excediam da sacola a mostrá-los como se fosse embalagens de plantas de edificações.
Intrigado pelo excessivo cuidado dispensado aos cartuchos, após colocar a saca entre as valises, e, discretamente abri-los lentamente cada um e a olhá-los para em seguida fechar, me causou muita curiosidade e, porque não, um pouco de apreensão.
Com a hora do voo se aproximando, ergui-me do local a caminhar à direção do portão de embarque, quando acidentalmente cruzei com dois cidadãos e notei de relance pelos distintivos afixados à lapela dos paletós, que pertenciam a Polícia Federal. Voltando-me, os chamei. Atendido no chamado, contei-lhes o que havia observado apontando ao grupo dos três turistas que permanecia sentado tendo ao lado seus pertences e despedindo-me, segui a tomar um café na cafeteria do saguão.
Não tardou, já de retorno os dois inspetores conduzindo os suspeitos, passam por mim à porta da cafeteria e um deles se chega a mim, a agradecer pela informação a dizer que a natureza e a fauna brasileira agradecem, pela informação sobre os “gringos”, pois os mesmos tentavam contrabandear para Áustria dezenas de aranhas Caranguejeiras e outros artrópodes. Elevando a sacola de lona com os cartuchos, acenou-me despedindo.
Moral da história: Nada como ser um observador atento, mas não um dedo duro” .
Ah... Esses “turistas depredadores” que não se contentam apenas em desfrutar, curtir e apreciar a natureza na sua sensibilidade e beleza, do nosso abençoado Brasil, se achando no direito de explorá-la, depredando-a no que mais precioso e bela no que ela nos proporciona e, quando se deparam com obstáculos vendo-se em “palpos de aranha”, a mostrar na verdade o quanto de desprezíveis os consideramos ao vê-los emaranhados às “teias” da justiça, são de fato uns “mal vindos” turistas que no entanto não deixam de nos oferecer flagrantes bem pitorescos...
Minha atitude, não quis dizer que venha ser um dedo duro, mas sim um observador. Afinal estranhei o procedimento daqueles indivíduos e resolvi diante de cruzar com os federais, comunicar o que observava. Tanto que tinha algo de errado, que um dos policiais me agradeceu pela informação. Por isso não me considero um alcaguete, dedo duro ou mesmo X-9 como queiram, penas salvaguardei algo de bom, cuja natureza brasileira certamente me agradeceu ao fato de me considerar um eterno observador em defesa de sua exponencial natureza, que infelizmente é subjugada em muito por nossos próprios irmãos em invariáveis depredações...