O simpático fã, não me escapou...
Eram 6,50hs., já embarcado no confortável ônibus à poltrona 19, que me conduziria à cidade de Valença (RJ), quando se chega um cidadão espavorido de compleição física obesa, portando uma bela calva a sentasse ao meu lado após me pedir licença a colocar sua bagagem de mão no bagageiro interno do ônibus.
Reclinando a poltrona, escarrapacha-se a descansar os braços sobre a proeminente barriga. Observando-o discretamente, imaginei que era do tipo dessas pessoas que adoram um cochilo, quando de súbito, dirigindo-se a mim, indaga se de fato estava no ônibus certo, pois havia dormido pouco e acordou tarde, e além disso já teve a oportunidade de pegar o de Conservatória mesmo tendo o motorista conferido a passagem ao entrar no veículo, pois adquirir no guichê e não observei o destino. A sonolência me derrubou...
De posse do meu buque, pois costumo levá-lo às viagens a fim de me utilizar das leituras, mesmo já conhecendo o texto a ser lido, afinal qual o pai que não adora seus filhos, abrir de maneira aleatória numa das 350 páginas e me pus a lê-lo. Ao passar pelo bairro de Mesquita, começo a sentir um rouco discreto que não demorou passou interferir na minha leitura. Resolvi então fechar o livro o deixando sobre as pernas e passei a curtir as paisagens da rodovia. Pouco antes do primeiro pedágio, notei que o homenzinho despertou, a elevar o corpo a olhar e, talvez por não distinguir o local, me pergunta onde estávamos. O respondi e um tanto confuso, disparou a dizer que o sono outra vez o derrubara e aproveitava para indagar-me se por acaso o havia roncado. Com sorriso um tanto acanhado meneou a cabeça e diz: Me desculpe, mas essa noite me deitei tarde e em consequência dormi pouco para estar nesse veículo as 7 horas. Limitando-me a sorrir, aceitei sua desculpa.
Dai em diante, permanecemos a papear, quando de repente arregalando os olhos ao observar o meu buque posicionado sobre as minhas pernas cujo título é “Esses Turistas Pitorescos”, indagou-me em qual livraria o havia comprado. “Nenhuma” foi à resposta. Apenas por ser o cronista que as escreve, tenho por hábito sempre reler esse compêndio para minha satisfação pessoal e lazer nos momentos que me encontro relaxado e tranquilo.
Sem ação, talvez por ser pego de surpresa, após algum minuto calado me fez a indagação: -- Seu José, veja só. Toda semana me deleito com suas crônicas nesse Jornal Panorama que é distribuído pela empresa do ônibus aos fins de semana. Sempre desejei saber, como consegue obter tantos fatos. São reais e verdadeiros? Ou criados pela sua imaginação?
Sorrindo, o respondi: Sim são verdadeiros. As pessoas, os turistas em especial, sempre nos propiciam esta farta mina inesgotável de episódios. Veja por exemplo o senhor neste exato momento. Retrucando e sorrindo o gorducho se defende a dizer: -- Ah... Mas roncar é uma circunstância, infelizmente natural na maioria das pessoas. Sem dúvida, concordo. Mas andar pelas ruas, viajar, desfilar em público com um par de Tênis calçado de modelos diferenciados e, ainda por cima o pé direito preto com detalhes em branco e apliques azuis e o esquerdo em branco com sola debruada em verde adornado na cor marrom, de fato não é uma coisa natural, concorda?
A olhar seus pés, se desarticula e meneia a cabeça dizendo: -- Ah, seu José foi o sono novamente. Agora sei que suas crônicas são verdadeiras....
Moral da história: Por mais que sejamos desligados nas coisas que fazemos na vida, sempre se deve ter um pouco de atenção e cuidado com aquilo que nos diz respeito.
Ah... Esses Turistas distraídos, quando se veem flagrados pelos seus próprios desligamentos, são de fato pitorescos e ainda mais quando tentam não ser um personagem irremediavelmente pitoresco...
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