O simpático turista “171”
Há algum tempo atrás, quando me utilizava das minhas férias para curtir as recordações e lembranças do meu passado de criança e adolescente às cidades visitadas por meu saudoso pai Luiz, em nosso Buick 52, pelas até então estradas de chão, onde a poeira se fazia sempre presente, ou a lama nas chuvas de verão e as velhas estações férreas como um monumento ao progresso, a nos fazer conhece-las, como; Lambari, Caxambu, Conceição do Rio Verde, Varginha. São Gonçalo do Sapucaí, São Lourenço, Cambuquira e outras tantas no sul de Minas sempre estavam presentes às fotos de família que a cada ano eram revividas a deixar nossa presença, nas fotos, da máquina fotográfica em que carreteis de filmes eram consumidos. Naquela época não existiam fotos coloridas e nunca se imaginava a existência de celulares cujos filmes, viraram peças de museu juntamente com as máquinas fotográficas.
A crônica que procuro narrar, seria compatível ao conteúdo inerente aquela época, se não fosse ocorrido já na era dos celulares, diferenciando apenas pelo uso dos cheques, cuja utilização ainda prevalecia como forma de pagamento, embora os cartões de crédito já tomassem o mercado, mesmo com a presença dos famigerados caixas eletrônicos em cujas capitais, tornavam-se a coqueluche do progresso econômico. Entretanto, os “171s” continuavam a exercer seus golpes sobre os incautos urbanos, como aos simplórios e inocentes interioranos.
Há uns 25 anos se não me falha a memória, encontrando-me hospedado num hotel à cidade de Lambari, antes de vir fixar residência aqui em São Lourenço, quando presenciei o fato que leva a escrever esta crônica, cujo contexto no geral tem tudo a ver com o que aqui me reporto.
Um casal que “vendia” simpatia pelo ótimo relacionamento que mantinha junto aos turistas hospedados no hotel, onde fazia de tudo para proporcionar alegria e muito humor aonde se encontrasse, a tornar sua presença sempre bem vinda, durante os dias que ali permaneceu a trazer para si um melhor procedimento, não só no salão de jogos, sinuca e demais atrativos que o hotel proporcionava, acabou anunciando naquela noite de sexta- feira, que deixaria o nosso convívio, pois pegaria a estrada rumo a São Paulo à tarde do domingo após o almoço e que por uma questão de emoções, não se despediria de ninguém, pois convidava a todos que se fizeram e demonstraram ser amigos, para participar de um bota-fora no salão de jogos, com direito a uma ceia por ele oferecida à noite do sábado.
Na noite de domingo, o carismático cidadão, em ligação ao hotel procurava pelo gerente, mas como o mesmo já não mais se encontrava, deixou recado para que o ligasse a cobrar, logo à primeira hora da manhã. Pois era muito importante a ligação. O que foi providenciado, a saber, se por acaso guardou uma cartela de couro que tenha se esquecido no apartamento. Em resposta afirmativa, o gerente confirmou a dizer que estaria à disposição no cofre da gerência. Que aguardava a presença para retirá-la, vez ser a mesma dotada de várias cédulas de dólares, Marcos, franco suíço e outros sem contar com cédulas de Real no montante de R$2.630,00. Aproveitou então, para pedir que enviasse via Sedex, a cartela, pois tinha um compromisso sério onde utilizaria todo o dinheiro, Infelizmente a resposta do gerente foi negativa, a afirmar que só poderia ser na presença do próprio. Mesmo diante da insistência, não conseguiu seu intento, mas o gerente ficou de indagar da direção à possibilidade e que ligasse em quinze minutos. O que foi feito, mas a negativa ainda prevaleceu, claro que a direção não permitia tal operação. Só pessoalmente se identificando...
No dia seguinte, terça-feira, a administração do hotel passou a ser palco no desfile de pessoas à procura do cidadão. Motivo? Cheque sem fundos já totalizando oito ao todo: O gerente do Posto de abastecimento da Shell, duas malharias, a perfumaria, a doceira, a reveladora de filmes, enfim outros tantos “borrachudos” (nome dado os famosos cheques sem fundos) passados pelo “171” na última sexta-feira e que começavam a bater na conta dos que os receberam. Estaria incluso os cheques utilizados no hotel no pagamento do seu passadio de uma semana, a tal ceia oferecida pelo bota-fora. O somatório atingia a cifra de R$ 6.480,00. Sorte que na cartela esquecida no hotel, havia pelo câmbio na ocasião levantado, um total de R$ 7.183,00, o que foi lançado mão cobrindo os ditos “borrachudos” O troco ficou à espera de algum “voador retardado” e na presença, se é que um dia apareceria para pegar seus ditos cascalhos... do “171”...
Moral da história: Nunca devemos de nos deixar levar por carismas, simpatias, demonstração de prova de confiança a se entregar por inteiro, sem sempre deixar um pé a frente para evitarmos quedas imprevistas
Ah... Esses turistas que se “comunicam” também têm os seus dias em que o golpe os “trumbica” pitorescamente...
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