Os turistas e seus deslumbres
Lá vinha eu caminhando pela rua, numa manhã de sábado bem movimentada à cidade de São Lourenço, MG, à direção do mercado municipal, quando observei ainda a boa distância uma quantidade de pessoas aglomeradas às calçadas junto às árvores ali plantadas, que se posicionavam entre si em locomoções constantes como procurassem um melhor posicionamento, a dar impressão que algo ocorria a chamar a atenção pelos atropelos existentes.
Já próximo ao local da muvuca, observo que a grande maioria das pessoas era constituída de turistas pela caraterização não só pelas vestimentas, mas pelas sacolas que conduziam e seus apetrechos como: celulares, tabletes, câmeras fotográficas entre outros objetos caraterísticos, a direcionar os equipamentos às árvores no intuito de registrem alguma coisa a elas observadas, tal o deslumbre na curiosidade em obter o registro num instantâneo.
Cruzando a aglomeração e ao mesmo tempo a olhar o alto das árvores a tentar desvendar o motivo que levava aqueles turistas a tamanha excitação num frisson desmedido, a ponto de alguns invadir a faixa de rolamento dos veículos a atrapalhar a fluidez do trânsito, sem se dar conta do perigo que corriam, de súbito vejo dois tucanos a deixarem um galho com seus naturais pulos a se posicionarem entre a ramagem e logo em seguida ser expulsos por dois bem-te-vis que, provavelmente, defendiam seu ninho do ataque aos filhotes pelos contumazes predadores. Nesta momentânea aparição, além do vozerio expressado pelos turistas deslumbrados atraídos pela beleza da ave em que o negro luzente de suas penas, no enorme bico amarelo como o branco a circundar os grandes olhos e ter a ponta da calda num vermelho vivo, notava-se que aquela ave representava a eles, talvez, a primeira vez que viam, ao vivo, pois de onde eram oriundos, naturalmente nunca viram a não ser em fotos, Tvs, cinemas ou empalhados em museus. Afinal são acostumados aos pardais, rolinhas e pombos, dependendo dos locais de suas origens que às vezes pela ausência da arborização urbana, nem isso os têm.
Sorrindo, passei pelo local, cujo buzinaço já dava início ao nervosismo estressante dos motoristas, principalmente após a parada de um ônibus de turismo que passava, a que seus passageiros apreciassem as aves. Seguindo meu rumo, ao posicionar-me a atravessar a via à direção do mercado, acredito pelo estardalhaço que o local oferecia, observo que os tucanos se assustaram diante da “fama” e em voos majestosos a bater suas longas asas se foram à busca do sossego, cuja curiosidade daqueles turistas urbanoides, os fizeram deixar o local. Óbvio quem agradeceu, possivelmente foram os bem-te-vis, que se livraram em ter seus filhotes devorados na luta pela sobrevivência...
Moral da história: Nunca é tarde para se conhecer o que é desconhecido, mesmo que o conhecido venha por meio do deslumbre pelo conhecimento que passamos a conhecer.
Ah... Esses turistas deslumbrados, que ao se verem diante de momentos por eles deslumbrantes a deixa-los em êxtase perante um singular pássaro no meio urbano, são de fato muito pitorescos e comparáveis aos interioranos quando veem o mar pela primeira vez...
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