A Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) lança, anualmente, um tema para ser refletido pelos católicos e outros cristãos, durante a Campanha da Fraternidade. Nesse ano de 2019 o tema foi “Fraternidade e Políticas Públicas”, com o lema “Serás libertado pelo direito e pela justiça” (Is 1,27). O assunto veio em boa hora, mas, a meu ver, foi pouco debatido pela sociedade como um todo. Creio que um pouco pelo desinteresse das pessoas pelos temas em si, um pouco pelo distanciamento que as pessoas vêm tendo da religião e um pouco, também, por se tratar justamente de política, uma palavra que caiu no descrédito e tem, até, afastado as pessoas. O brasileiro, com a mesma impetuosidade com que participa das disputas eleitorais, rejeita temas políticos importantes e decisivos para os cidadãos, sobretudo quando se trata de políticas públicas e de estado.
Temos visto, nos últimos tempos, uma verdadeira campanha contra a política e contra as instituições públicas no país. Com a decepção causada pela avalanche de denúncias e fatos concretos de corrupção ocorridos nas últimas décadas, os brasileiros têm se revoltado contra a classe política e, consequentemente, contra a política e as instituições. Esse comportamento precisa ser mudado. A partir do momento em que se enfraquecem as instituições e não se valorizam as políticas de estado, a tendência é que as coisas piorem e a democracia seja colocada em risco. Uma coisa é julgar o comportamento e as ações dos ocupantes de cargos públicos, seja no legislativo, no executivo ou no judiciário. Outra coisa é criticar os órgãos públicos com base em seus ocupantes. Atualmente, é grande o descontentamento da população com as ações de alguns ministros do Supremo Tribunal Federal (STF), com a atuação de deputados e senadores e, também, com o desempenho do presidente Jair Bolsonaro. Até aí, tudo bem. Realmente, no momento, eu não conseguiria defendê-los. Nem por isso, devemos fazer críticas generalizadas ao STF, ao Congresso Nacional e à Presidência da República. Esses ocupantes dos cargos vão passar. E as instituições permanecerão. Por isso, é preciso fortalecê-las. Até para que futuros ocupantes desses cargos, piores, iguais ou melhores que esses, tenham mais responsabilidade e a certeza que representarão instituições fortes e essenciais para a democracia.
No tocante às políticas públicas, o “pecado” é quase o mesmo. As pessoas estão se preocupando mais com valores, ideologias políticas e de gênero, do que com as leis e as ações práticas, que influenciarão na Saúde, na Educação, na Assistência Social, na Economia... e, consequentemente, no desenvolvimento econômico e na qualidade de vida de todos nós. É preciso entender que as políticas de estado devem ser fortalecidas e melhoradas, e que outras, que ainda não existem, mas são necessárias, sejam implantadas, independente das orientações pessoais dos ocupantes dos cargos públicos. Essa “cultura” de que novos ocupantes de cargos públicos têm que mudar tudo e, muitas vezes, não dar continuidade a bons projetos e programas criados por seus antecessores, é extremamente prejudicial ao setor público e afetam, na maioria das vezes, os cidadãos de menores condições econômicas e socialmente marginalizados. Ou mudamos de comportamento ou estaremos trabalhando para que a situação piore cada vez mais.
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