Quanto o mundo é pequeno!
Ao chegar à banca de jornal àquela manhã, sou abordado por um leitor a indagar-me sobre a resposta do anagrama das “cruzadinhas” da última edição do jornal Correio do Papagaio, fazendo alusão à questão 6 da horizontal. Sorrindo, o respondi que aguardasse o próximo número, pois veria ser bem fácil a palavra.
Neste instante, um senhor que ali se posicionava, senhor Edevaldo, como era conhecido, talvez a ouvir o nosso diálogo, toca-me ao braço, no que o atendi, perguntando se eu era também o cronista responsável pela coluna “‘Na fumaça do trem”, pois acreditava ser, devido aos nomes das autorias, onde às cruzadinhas o jota é abreviado e na crônica tem o nome por escrito; José. Respondendo-o que sim, então se pôs a dizer que a muito me acompanha desde o antigo jornal; A notícia, onde ao alto da coluna destacava-se minha pequena foto, como era de praxe a todos que escreviam suas matérias e artigos. Seu Silva como se apresentou, resolveu tecer comentários a uma das últimas crônicas sob o título: “O fantasma da velha Filó”, a dizer que de fato existiu esta lenda em Itajubá e ele teve o “desprazer” de presenciar um episódio ocorrido na sua puberdade, em que testemunhou o ataque do fantasma a um dos seus colegas.
Seu Silva, oriundo de Itajubá, contava que se ouvia falar da tal Filó, a escrava Filomena, que perambulava há muitos anos na estação e, que teve sua morte ocorrida pelo rigoroso inverno que se abateu sobre a cidade. Com o passar do tempo, deu origem à lenda, a dizer que sua alma penada permanecia atrelada às dependências da estação férrea, com pessoas a jurarem tê-la visto vagando às sombras do complexo a varrer com sua vassoura de ramas de bambus.
Recordando-se, contou que certa ocasião unindo-se ao grupo de colegas de folguedos e peraltices infantis, resolveu desafiar a coragem no propósito de enfrentar o “dito” fantasma cruzando a plataforma escura dos armazéns e depósitos. Tirada a sorte entre eles para ver quem seria o primeiro, Silva se beneficiou por ser o último. Afinal se a alma atacasse alguém, seria logo os iniciantes.
Depois de todos transpassarem a cerca da via férrea, o primeiro a seguir, embora sobressaltado, pôs-se a caminhar sobre os trilhos sumindo na escuridão. O segundo foi logo a seguir se fazendo de forte. Todavia, quando o terceiro iniciou sua caminhada e mal foi engolido pelo negrume, ouviu-se um grito distante seguido por outros tantos acompanhados de passos em correria. O restante do grupo, quatro ao todo, ao ouvir aqueles gritos apavorantes, deixam o local em disparada a se atropelar em transpor a cerca de arame farpado a causar rasgos às roupas e ferimentos em mãos, braços, pernas em desabalada correria pela rua até à frente da estação, onde aterrorizados e ofegantes se unem à espera dos três outros desventurados companheiros que enfrentavam o fantasma.
Com o tempo passando, os quatro “pivetes” sob grande tensão, aparvalhados, sem saber o paradeiro dos colegas, eis que apontam à rua conduzindo um deles apoiado pelos ombros de dois, os desafortunados “caça fantasmas”. Indo ao encontro, os quatro “destemidos” se chegam e observam que os três se mantinham em total estado de choque, com os olhos arregalados, tremendo como vara verde, roupas rasgadas e sujas. Acolhendo-os, ajudaram a conduzir Geraldinho, que em quase estado de total prostração, alheio a tudo e todo borrado exalando o odor característico, segue caminhando amparado pelo grupo sob forte comoção a indagar dos outros dois o que ocorreu com Geraldinho.
Segundo a revelação, limitaram a dizer que apenas o encontraram caído entre os trilhos naquele estado, após escutarem os seus gritos. Na correria os companheiros se chocaram e juntos foram à procura de Geraldo, que o encontraram sem nada a proferir e o trouxeram até aqui.
Aos poucos já se recuperando, conseguiu articular palavras a dizer que a Filó é muito feia e tem um nariz igual ao de bruxa ,só faltando o chapéu comprido,vez que sua vassoura pendia ao ombro.
Os amigos se entreolharam e assustados, mais que depressa deixaram a praça rumando as suas casas convictos que a alma da velha Filó existe e que a lenda se mantém bem viva. Pelo menos para aquele grupo que tentou desafiá-la.
E assim, Seu Silva me proporcionou uma imensa satisfação, apresentando-me um subsídio a mais no episódio o qual tive a oportunidade de cronicá-lo intitulado “ O fantasma da velha Filó” da edição 327.
Veja leitor, como esse mundo é pequeno!!!
Um episódio narrado por meu saudoso pai Luiz Ayres, ocorrido talvez há quase um século, ou próximo a isso, pois segundo ele, quando ainda jovem era um iniciante caixeiro viajante –(( representante comercial da saudosa fábrica de tecidos Bangu) que como tal, conviveu com esses colegas de profissão, onde as conversas e lorotas nas prosas noturnas, se faziam presentes em seus encontros nos hotéis e que esta foi por ele contada, em que na ocasião chegou a causar certa preocupação ao grande número de profissionais até a evitar passar pela estação férrea da cidade de Itajubá. Este relato, segundo Luiz, na ocasião foi narrado por um dos caixeiros, cujo nome não se recordava, mais afirmava que só ia a praça de Itajubá vender seus produtos conduzido por charretes, pois não saltava do trem naquela estação férrea...
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