“Santos Dummont” voou em Itajubá!
Recordando meu saudoso pai; Luiz Ayres, cujas histórias inerentes aos trens sempre agradáveis a fazer com que me entusiasmasse em prosseguir no meu intento – possuo atualmente centenas de crônicas a formar considerável acervo – me narrou um episódio bastante interessante, cujas consequências foram bem merecidas e deveras humorosa, sem contar à parte educativa ao se desdenhar à fragilidade de um ser humano limitado na sua pequena cultura...
“Ao chegar à plataforma da estação férrea de Itajubá, MG, observou no quiosque local, bebericando seu café, o colega caixeiro viajante, Herculano, cujas características inconfundíveis eram a elegância e o apelido o qual se orgulhava; Santos Dummont, por se assemelhar muito com o famoso inventor não só pela compleição física; ou seja, estatura e magreza, como também pelo bigode e os usos do jaquetão, gravatas, lenços e o indispensável chapéu de abas caídas, que parecia conversar, pelo gestual, com uma mulher gorducha que portava à mão uma mala surrada e sacola de pano presa ao ombro. Não tardou, a simplória mulher de aspecto humilde pelo procedimento em ouvi-lo, atenta ao que dizia, o estendeu a mão em cumprimento e em troca a retribuição do gesto, a reverenciá-la com retirada do chapéu. Ao afastar-se do quiosque, a mulher deu alguns passos, parou a posicionar seus pertences ao chão, coçou a cabeça após meneá-la negativamente, enquanto Dummont caminhou à direção onde Luiz se posicionava e, que diante do seu chamamento, ao vê-lo, se chegou expondo um sorriso um tanto matreiro e permaneceram a prosear. Com algum tempo de prosa, de súbito Luiz é tocado no braço por alguém, que ao se voltar, depara-se com aquela criatura que conversara com Herculano, a lhe perguntar como chegaria em São Lourenço se não teria mais trem ? Perplexo, Luiz a retruca como isso é possível e quem deu esta informação e o porquê ?
A humilde mulher o responde a expor visível preocupação e diz que foi um homem enfatiotado no quiosque a dizer que a Maria fumaça tinha furado dois pneus e o maquinista não havia como trocá-los. Por isso o trem não viria. Dirigindo-se a inocente criatura e penalizado, a esclareceu que não houve nada disso, pois o trem possui rodas de ferro a andar sobre trilhos e não pneus! Portanto, ficasse tranquila que o expresso logo estará na estação. Ainda mostrando-se reticente, a simplória mulher, confusa e em dúvida, retrucou a indagar se ele não estava mentindo. Sorrindo, enleando o braço ao seu ombro, disse–lhe que ela fora enganada. Franzindo o nariz a expressar ira a morder os lábios, o agradeceu e deixou sua mala ao chão e, num rompante se escutou um barulho pelo impacto da sacola sobre o colega Dumont, que sem esperar, cai ao chão e sob “sacoladas” tenta se desvencilhar da furiosa gorducha. O que ocorreu a sair em disparada perseguido na plataforma. De retorno, bufando, a pobre mulher a pegar a sua mala ali deixada, diz a Luiz que ainda pretende surrá-lo caso voltasse ao local. Quanto a Herculano, escafedeu-se, só retornando com a chegada do expresso onde todo amarfanhado em total desalinho, tendo três nódoas de sujeiras à altura dos joelhos na calça e manga direita do jaquetão com o chapéu á mão visivelmente amarrotado.
Já em viagem, acomodados à poltrona do vagão da primeira classe, Luiz o alerta a ter atenção, pois a mulher deixou claro que ao encontrá-lo vai lhe dar boas “sacoladas”. Expondo sarcástico sorriso, Dummont retrucou que viajava na 1ª classe e ela provavelmente estará na segunda. Luiz perguntou o porquê de inventar essa história dos pneus da Maria fumaça, a explorar a boa-fé da simplória e humilde mulher que o trem furou os pneus ?
Gargalhando, Herculano disse que apenas queria desanuviar a tensão dela, brincando sobre os pneus do trem!
Só que não imaginava que levasse a brincadeira sobre esse absurdo tão a sério, atribuindo que tal fato era verdade e que o trem possuía pneumáticos!
Luiz, então o aconselhou, nunca abusar e desdenhar da ingenuidade de pessoas em que a cultura não está além da sua insipiência cultural limitada por circunstâncias da própria vida. Mas acredite Herculano, Que “Santos Dummont” voou aqui em Itajubá ajudado por boas e memoráveis “sacoladas” neste mês de outubro, em que o grande inventor é homenageado, isto é verdade !!!”
Comentários: