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Domingo, 15 de Setembro de 2024
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Simão e sua cruz

A experiência foi sem dúvida, uma cruz pesada, e quase um calote do senado

José Luiz Ayres
Por José Luiz Ayres
Simão e sua cruz
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Certa feita quando nos encontrávamos num restaurante à cidade de Campos do Jordão, SP, a degustarmos um delicioso jantar, deparamos com um casal de “bem vividos”, que de pé à entrada aguardava; parecia-nos, à espera de mesas a desocupar. Coisa, aliás, bem difícil ocorrer nestes estabelecimentos, dada a frequência de turistas em desfrutar dos momentos de gustativos e lazerosos sem a preocupação quanto a deixar a mesa.

Trocando ideia com minha mulher, levando em conta a paciência e a simplicidade que o casal ali postado demonstrava, ergui-me da cadeira indo até eles e os ofereci a sentar-se à nossa mesa. Um tanto reticente, meio sem jeito ou mesmo acabrunhado, acabou cedendo e aceitou o convite.

Acomodado à mesa, educadamente se apresentou como: Simão e Amália, procedentes do Rio de Janeiro, que ali pela vez primeira se encontravam a visitar a cidade tão famosa.

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Já com o pedido do cardápio atendido, um bom vinho à mesa, seu Simão a vontade põe-se a prosear e revelar ser oriundo de Portugal após deixá-lo aos 13 anos de idade vindos para o Brasil, onde passou a viver há 69 anos e constituindo uma família ao lado de Amália.

Entre suas andanças no Rio, inicialmente morando com um tio comerciante, passou a ajudá-lo no seu estabelecimento; um botequim, às proximidades da Estrada de Ferro Central do Brasil, no bairro da Gamboa. Com o tempo, seu tio ofereceu sociedade no negócio. Dinâmico, um jovem impetuoso de 20 anos, muito querido pelos fregueses e comerciantes locais, um dia foi surpreendido por um senhor, também lusitano como ele, que em conversa o propôs a sociedade no arrendamento na exploração do restaurante no vagão no expresso Vera Cruz, - trem noturno entre Rio e São Paulo – com o patrício sendo o majoritário com 60% e ele com 40% sendo o monitor no restaurante nas viagens de ida e volta a compor sua cota como sócio na empreitada. Sociedade concluída, pôs mãos à obra trazida do bar do tio, de onde se desligou.

Contava seu Simão, que com quase quatro meses de viagens, seu sócio por ser bem relacionado junto às elites cariocas, ligado à política da Capital da República, numa ocasião conseguiu junto à direção da rede férrea, por influência de um senador, arrendar ao filho deste político, o vagão restaurante a ser utilizado à realização da recepção do seu casamento após o enlace às 19 horas na igreja da Candelária, onde um número limitado de convidados especiais desfrutaria das mordomias às cabines de dois carros leitos, como evidentemente, da festividade em si no vagão restaurante, em que requintado “Buffet” seria servido com toda a pompa. Segundo foi dito pelo chefe do trem e, de acordo com o chefe do cerimonial; à última hora, onde era previsto a presença de 100 pessoas, foi tracionado ao comboio, mais um vagão de cabines duplas, que obviamente, aumentaria a carga do “Buffet” e do espaço físico já bem preocupante.

Às 22h50minh, todos a bordo, após a chegada dos nubentes com glamorosa recepção à plataforma, partiram na sua “excentricidade” o Vera Cruz, a deixar Simão preocupado à abertura do carro restaurante, que se daria à zero hora.

O acesso aos vagões fretados aos convidados era efetuado através dos convites apresentados à escada de cada vagão, onde identificados, determinava os números das cabines a serem ocupadas. No último carro contratado, ficavam posicionados três seguranças a não permitir na entrada de alguém oriundo dos vagões subsequentes.

À hora prevista, com a abertura do restaurante e os atropelos dos convidados ao acesso, afinal os corredores mantinham-se congestionados e, penetrar no recinto tornava-se impraticável, sentindo que poderia ocorrer mais tumulto, Simão, trajando seu impecável “smoking” alugado, apavorado diante de tanta gente, que mais pareciam esfomeados, resolveu botar ordem, a pedir àqueles que tivessem sido servidos, que colaborassem dando lugar aos outros. Porém, nada adiantou, e o avanço às bandejas e pratos foi dramático, com o “saque” sendo efetuado a encher bolsas, bolsos e o que mais houvesse. As bebidas eram retiradas do balcão com as garrafas subtraídas das prateleiras e viradas às bocas “sedentas” no gargalo. O Chopp, a serpentina não dava vazão. Enfim, o caos se instalou em definitivo.

Era quase 01h10minh, quando os noivos acompanhados de alguns parentes, inclusive o senador, se chegaram ao vagão, talvez a cortar o bolo e ao brinde. Foi, obviamente, a decepção ao ver o estrago e as condições absurdas que o local se apresentava. Olhando-os, tendo ao lado quatro garçons portando vassouras às mãos, fala aos contratantes: - Lamento senhores, mas não estava previsto esse número excessivo de pessoas, pois o solicitado eram 100 convidados!

Segundo Simão, nunca mais aceitou arrendamentos enquanto foi responsável nos oito anos que ali esteve no trem Vera Cruz. Aquela experiência foi sem dúvida, uma cruz pesada, e quase um calote do senado, alegando maus serviços e a precariedade no atendimento aos políticos e seus párias governamentais. Pelo visto, nada mudou, apena a Capital da República mudou e as prováveis propinas sofreram aumento consideráveis a ponto do famoso e tradicional trem noturno, ter suas atividades encerradas. Pena que esta viagem turística teve sua “luz apagada” no fim do túnel...

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