Tal como hoje, a prepotência dos políticos prevalece!
Amargurado, um tanto circunspecto visivelmente aborrecido e bem diferente do seu habitual estado de ser, onde a cordialidade, amabilidade e atenção sempre se mostravam presentes no procedimento e atendimento aos que dele se chegavam, lá ia o chefe do trem, Miguel, debruçado à varanda do seu vagão, talvez perdido nos seus pensamentos, quando um dos agentes do trem se chega trazendo informações da sua tarefa rotineira, a contar que aquele homem, o que se dizia um deputado, pivô do entrevero de sete dias atrás, criava novamente um problema idêntico, se recusando a pagar sua passagem e de deixar o lugar a qual se ocupou indevidamente em detrimento do passageiro, que não conformado, de pé, exigia seus direitos, vez que a poltrona a ele reservada de acordo com o bilhete adquirido e pago, se mostrava ocupada.
Miguel, ouvindo o relato da ocorrência, coçou a cabeça após retirar seu quepe, suspirou demonstrando certa impaciência e falou ao funcionário: “ – Colega, não sei sinceramente o que fazer, pois me sinto impotente diante da ignóbil, arrogante e arbitrária criatura, já que a ferrovia não me deu apoio desconsiderando-me junto ao dito deputado, inclusive me “presenteando” pela primeira vez ao longo dos 30 anos de minha vida de servidor ferroviário, com uma advertência trabalhista pelo procedimento funcional junto a dita “vossa excelência”, que se deu ao desplante de enviar à direção da ferrovia RMV – Rede Mineira de Viação – uma carta onde o sujeito relatava haver sido humilhado pelo chefe do trem diante dos passageiros que a tudo assistiam, inclusive dois deles se apresentavam como testemunhas pelas ofensas a mim atribuídas. Todavia o que mais me entristeceu, foi a passividade com que a RMV tratou o fato em si, sem que ao menos me chamasse a ouvir o suposto entrevero, ou mesmo procurasse saber o que ocorreu por outros meios, a ter simplesmente como solução me penalizar com uma carta de advertência, que passava a constar em minha ficha funcional, a qual, logicamente, a considero injusta.
Afinal nosso dever é zelar acima de tudo, pelos passageiros que aqui viajam, após adquirirem e pagar por suas passagens e com isso, óbvio, ter seus direitos reconhecidos como usuários às viagens. E não aceitar injunções e “cortesias” políticas só porque determinado cidadão, que se diz possuir prerrogativas, ter o “direito” de viajar como bem quiser, só por se intitular um deputado e se insurgir pela prepotência e arrogância, esquecendo que o povo é que o elegeu e que deveria ser o primeiro a respeitá-lo.
Agora meu amigo, não sei como agir. Espero que haja bonsenso de sua parte e procure de forma pacífica, contornar o problema, pois não possuo condições psicológicas de me envolver com este “cidadão”. Provavelmente serei punido mais uma vez e não estarei livre de receber, não mais advertência funcional, mas sim uns três dias de suspensão, com a alegação de represália pela punição, injusta, recebida no tal entrevero onde tive cerceado meu direito de defesa.”
Este episódio indigno e vergonhoso ocorreu em uma viagem entre São Gonçalo do Sapucaí, MG e Cruzeiro, SP, onde Miguel operou por 40 anos como ferroviário. Quanto ao nome do abominável político, por questão de dignidade, não foi revelado pelo chefe Miguel.
Segundo o velho e gordo Paixão, chefe da estação da cidade de Campanha, MG, o amigo Miguel teve esta advertência nodoada pelo resto da vida como uma ignominia, a manchar sua retidão profissional, por ter sido considerado pela saudosa RMV, onde se dedicou por mais de 40 anos, um servidor inflexível e inábil perante situações “delicadas” as quais temos que engolir e aceitá-las. Aliás, este tipo de coisa já ocorre até nos dias atuais, onde as tais prerrogativas das “vossas excelências”, cada vez mais abrangentes, se fazem presentes. Agora, nos transportes aéreos, nos famosos “ckeck-ins”.
Comentários: