Tiro “Carioca” sai de culatra “Mineira” !!
Tomado por uma preguiça de fazer inveja a qualquer mexicano, seguíamos com destino a Serra Negra,SP, escutando a conversa entre duas passageiras do ônibus sentadas atrás de nosso par de poltrona. Uma delas depois de suspirar, diz para a companheira de viagem, que não via a hora de regressar a sua Minas Gerais, pois não aguentava mais permanecer sob forte tensão emocional na semana que passou, no apartamento de uma amiga mineira que atualmente mora no Rio de Janeiro, na Tijuca, a visita-la. A companheira conterrânea, curiosa indagou o porquê e a resposta veio de imediata; -- Medo querida, muito medo, pois vivia permanentemente sobressaltada. A cada passeio era como estivesse rumo à guerra. Rezei o tempo todo pela proteção a São Sebastião, padroeiro e mártir da cidade do Rio de Janeiro.
A colega por acaso também visitante e de regresso a Minas, natural de Guaxupé, mais tranquila e menos neurótica externou sua opinião contrária, se dizendo até muito saudosa do Rio de Janeiro e que nunca passou por sua cabeça tal paranoia, afinal a violência esta em todos os lugares e já vem fazendo parte do contexto de nossas vidas no Brasil, o que temos ai sim, a lamentar pela insegurança negada pelas ditas autoridades. Claro que isto é preocupante, mas não a ponto de nos enclausurar esquecendo que o belo é para se ver e curtir.
Na primeira parada à cidade de Resende,RJ, a “neurótica” diz a companheira que não desceria e que se utilizaria do toalete do ônibus, pois trazia muitos valores em sua bolsa e não queria se arriscar, afinal ainda estava no Estado do Rio de Janeiro. Indignado, olhei-a repulsivamente e deixei o veículo. Só que ao retornar após o tempo determinado, teve a pachorra de ironizar a companheira a indagar se vira algum tiroteio e se protegeu de balas perdidas...
A serra da Mantiqueira ao ver a placa de sinalização na divisão entre os dois estados; Rio de Janeiro e Minas Gerais, a repulsiva criatura depois de um espontâneo AH...Graças a Deus! Disparou a “metralhadora bocal” a fazer alusão a esperada tranquilidade por haver saído do “Inferno Carioca” e entrado no inigualável “Céu Mineiro”.
Ao chegarmos à segunda parada à cidade de Pouso Alto, MG, a ácida mulherzinha disse que agora desceria, pois se encontrava em casa. No interior da lanchonete, observei que a mesma, depois de reclamar com uma das lancheiras, retirou-se a dizer que iria em outra lanchonete por não concordar com os preços, vez que se achava roubada a pagar por aquele aviltamento. Não demorou muito, ouvimos aos berros, retornar assustada, querendo saber onde era a polícia, pois acabara de ser assaltada por dois motoqueiros que os surrupiaram não só sua bolsa, o relógio e colar fugindo na moto à direção da via Dutra. Dado a ocorrência, chamada a polícia que imediatamente compareceu, atrasou bastante a viagem, mas seguimos com a mulherzinha a lastimar-se aos ouvidos da companheira, a afirmar que aqueles dois só poderiam ser do Rio de Janeiro. A companheira não querendo ironizar, mas já ironizando, fez questão de lembrar..., Que estavam em plena Minas Gerais. Meneando a cabeça de um lado para o outro, expos uma cara amarrada e um sussurro de irritação sem nada dizer.
Moral da história: “O tiro carioca, acabou saindo pela culatra mineira”...
Ah... Esses turistas bairristas quando veem o sentimento de bairrismo abalado pela natural imagem e cena de violência, reproduzida ao vivo na própria carne e terra e, tentam desconectá-la alegando procedência “importada”, são de fato na verdade uns eternos pitorescos, que sempre hão de nos propiciar momentos que não deixam de ter o seu lado jocoso... No que pese viéssemos a lamentar pela pobre mineira, a perda de seus pertences.
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