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Domingo, 15 de Setembro de 2024
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Tranco e cicatriz, a recompensa de Alberto...

E que recompensa dolorida.

José Luiz Ayres
Por José Luiz Ayres
Tranco e cicatriz, a recompensa de Alberto...
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Tranco e cicatriz; a recompensa de Alberto

 

‘           Ressaltando a figura do ilustre lusitano Alberto de saudosas lembranças, a qual a temos como um dos inesquecíveis contadores de episódios inerentes aos trens; após adotar a cidade de Paty do Alferes a sua segunda pátria, por haver se recuperado da mortal  -- enfermidade, tuberculose,  -- não poderíamos deixar de enaltecê-lo pela dedicação e abnegação a localidade por ele adotada como pátria tentando projetá-la no cenário fluminense.

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 Na ocasião o lugarejo, até então apenas um distrito de Vassouras, - emancipado anos depois como município  –  tendo sua mísera economia baseada na produção de hortaliças e nas plantações de tomates, onde se destacava dada à proximidade com o ex-Distrito Federal.

Criativo, Alberto não se conformava com essa submissão e passividade da população, sabendo que o local tinha enorme potencial favorável ao turismo pelo excelente clima, – ele fora um exemplo – como por abrigar entre os habitantes, situantes e fazendeiros, importantes personalidades, a qual passou a conhecer e manter contato pela presença constante em seu quiosque à estação férrea.

             Independentes desses atrativos, a cidade também acolhia com frequência ilustres visitantes, que quase no anonimato faziam da localidade seus recantos de sossego e repouso e até segundo as mais línguas, refugio de políticos.

Aguçado pela criatividade, resolveu providenciar um livro, onde passaria a registrar as personalidades, inclusive obtendo os autógrafos, numa tentativa de enaltecer a cidade, pondo fim ao servilismo e o marasmo, dotando-a de  certo prestígio junto as demais vizinhas e ao próprio estado do Rio de Janeiro,   . Este livro que guardava com todo cuidado, o qual o folheei, de fato continha um número expressivo de ilustres e admiráveis personalidades como: políticos, escritores, artistas, jornalistas e outros tantos. Todavia para Alberto, uma personalidade marcante do cenário nacional, embora tivesse na fazenda em Sebastião de Lacerda suas origens interioranas na região, faltava a coroar de vez seus esforços em obter seu  valiosíssimo autógrafo e testemunho; ou seja; o magnífico jornalista Carlos de Lacerda, na época ferrenho opositor ao Presidente Getúlio Vargas, tendo na oratória sua maior virtude por ser um jornalista e escritor, dono do jornal Tribuna da imprensa no Distrito Federal, à cidade do Rio de Janeiro.

Numa manhã, o lusitano na sua lida rotineira é surpreendido com a presença de um grupo de políticos, que adentra a plataforma em que Lacerda, à frente vem cercado de alguns partidários, políticos e assessores, e, dirigem-se ao quiosque a solicitar água mineral e evidentemente um delicioso café dado ao aroma exaltado por haver sido preparado àquele instante por Alberto; no que mereceu elogios de Lacerda.

Alberto estarrecido diante da impoluta e significativa figura nacional, segundo disse; até trêmulo ao servir vários cafés, vira-se ao renomado jornalista e o mostra o seu livro solicitando sua dedicatória e autógrafo. Lacerda folheando às paginas, admirando-se vez por outra a ler as dedicatórias ali expostas; às vezes franzindo a testa ou sorrindo, a tecer alguns comentários, depois de minutos entre goles do café, retira do bolso a sua caneta; Parker 51, e põe-se a escrever. Alberto não se continha de alegria e emoção!

De súbito o expresso se chega e todos se convergem aos vagões. O sinal é dado pelo sino da estação, com apitos a soar no ar e o trem, parte. O lusitano no interior do quiosque, ainda pasmo diante daquele ocorrido histórico, num lampejo, da por falta do seu livro. Apavorado, sai em disparada na tentativa em reavê-lo e vê a sua frente desfilar aos olhos a passagem dos vagões. Desesperado, corre no sentido do trem e agarra-se ao balaustre do último carro tentando se introduzir, quando um tranco forte o puxou indo de encontro à escada jogado sobre os degraus. Dependurado, a muito custo conseguiu equilibrar-se e a galgar o degrau, subiu à varanda, onde se sentou a verificar um rasgo na perna da calça com o sangue a escorrer e uma dor dilacerante a deixá-lo aturdido. Recomposto do susto, ergueu-se e caminhando sob muita dificuldade, põe-se a percorrer os vagões até que finalmente se encontra com a comitiva e se chega ao Dr. Carlos de Lacerda, que se surpreendendo ao vê-lo naquele estado físico, um tanto assustado, o pergunta: – O que houve meu caro? O que levou a estar aqui tendo um semblante tão sofrido?

Alberto muito sem jeito, visivelmente acanhado, meio desarticulado o responde: – Dr. Lacerda acho que o meu livro ficou por esquecimento com vossa excelência quando se dirigiu ao embarque. Lacerda mostrando-se sensato, o responde que sim, mas ao acessar o vagão o deixou com o chefe da estação para entregá-lo!

Desculpando-se pelo importuno, capengando, retirou-se e veio a saltar em Miguel Pereira, onde foi à procura de uma charrete que o conduzisse até Paty de Alferes a percorrer os 7 km que separam de Miguel Pereira. O que ocorreu após trotear sofrendo pela dor da violenta canelada. Mas por outro lado, mantinha-se feliz e realizado, pois seu acervo de personalidades se completou, mesmo tendo lhe custado alguns pontos à canela em que se orgulhava ao mostrar a cicatriz ao contar sua história no encontro com Dr. Carlos de Lacerda em 1953...  

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