Trem, a segunda e eterna paixão.
Diante das inúmeras solicitações dos nossos leitores através de seus e-mails, as quais além dos elogios, a me proporcionarem muita satisfação a me sentir extremamente lisonjeado, não poderia me furtar em responder, a revelar entre várias indagações, o motivo que me levou a escrever sobre o tema, o qual venho há anos abordando nos jornais que me oferecem seus espaços, por ser matéria bem relevante a ser levada nos dias atuais.
Sinceramente, não posso precisar o porquê desta inspiração e vontade em discorrer episódios sobre os tens, notadamente o a vapor, conhecido de forma carinhosa como: Maria-Fumaça. Talvez possa ter surgido, como atribuo ser, quando por volta dos meus 5 a 6 anos, motivado pela recuperação da saúde de meu saudoso irmão de 10 anos na época, que teve como orientação médica depois de acometido de pleurisia (água na pleura), há passar algum tempo numa região montanhosa longe do denso clima urbano. Na ocasião, meus pais optaram pela localidade de Palmeiras, distrito do município de Eng. Paulo de Frontin, (RJ). Este local encravado em meio a serra do Mar havia um hotel, onde nos hospedamos, bem ao alto da montanha, cuja visão panorâmica, principalmente à janela do quarto, que nos oferecia magnífica vista, a qual se via serpenteando a serra já ao longe, o leito da ferrovia a ouvir ecoando os apitos das possantes locomotivas. Com a visão mais próxima, no que pese a altura, observava-se então o túnel onde comboios surgiam ao sair e sumiam ao entrar.
Com ausência de papai, pois só estava presente aos fins de semana, praticamente confinados ao quarto, eu passava boa parte do dia a curtir os trens, cujo tráfego na oportunidade fazia-se bem intenso, já que aquele leito ferroviário era a via responsável à ligação a São Paulo, Minas Gerais entre outras localidades do estado do Rio de Janeiro. Confesso que não gostava de deixar o quarto, tal a fixação pelos trens. Até a numeração das locomotivas eu havia decorado. À noite então, adorava ver aqueles possantes faróis cortando pela luminosidade o negrume e ver a boca do túnel projetando o facho de luz a incidir sobre os trilhos a luzirem cada vez mais seus brilhos.
Este longo período que estivemos em Palmeiras, até hoje o tenho perpetuado à memória. Ficou gravado e nunca esqueci. Talvez este tenha sido um dos motivos forte da minha fixação por trens e ferrovias, que para aumentar ainda mais esta desacerbada motivação, naquele natal ganhei de presente de vovó, um trem a corda de fabricação inglesa composto de uma Maria-fumaça, uma carvoaria, um vagão de carga, dois de passageiro e grande seguimento de trilhos que montados constituíam uma ferrovia. Não preciso mencionar que este brinquedo fez parte diuturna da minha infância. Orgulhava-me em possuí-lo o tratando com todo carinho, principalmente depois que papai adquiriu novos acessórios como: estação, cruzamentos de trilhos, sinais e mais trilhos. Ainda como não bastasse tudo isso, vieram as nossas viagens à cidade de Campanha, MG, onde pelo menos três vezes ao ano utilizávamos dos trens até passarmos ao automóvel em 1950. Em Campanha, meu brinquedo e lazer favorito era ir à estação diariamente ver os trens. Inclusive foi ali que tive a glória em conduzir uma Maria Fumaça aos cuidados, lógico, do maquinista José Gomes, que na oportunidade retratada por meu pai, as fotos deram o que falar entre meus colegas, não crendo no que viam a ser confirmado por papai, ao ser solicitado no colégio para confirmá-las.
Já na adolescência, mesmo com a vida mudando em razão, naturalmente da evolução física e mental, em que outros entretenimentos passavam ter prioridade que faziam, óbvio, cambiar os hábitos em função da faixa etária, confesso que a fixação pelos trens continuou presente, depois que tomei conhecimento por mamãe e resolvi pesquisar juntos aos livros, documentos históricos e alfarrábios sobre a construção da 1ª ferrovia do Brasil, projetada, financiada e executada pelo então: Barão de Mauá (Irineu Evangelista de Souza) de Porto Estrela (Magé, RJ) até Petrópolis, cujo meu tetravô (Jonh Charlles Burgun) fora um entre dezenas de engenheiros ingleses contratados a participarem desse grandioso e importante projeto ferroviário, o qual sempre me orgulhou, ou seja; a primeira ferrovia construída no Brasil.
Para complementar este interesse, a partir de então, agregou-se a tudo isso as narrativas de papai ao falar sobre trens; usuário diuturno por vários anos, quando como caixeiro viajante percorria, notadamente pelo sul de Minas, suas praças a negociar seus artigos na área têxtil. Portando, a partir desses relatos de recordações, cujos episódios; humorosos e dramáticos, se fizeram presentes pelas suas narrativas, passei a me interessar e catalogá-los; não sei o porquê, e fui obtendo através dos anos, encontros casuais garimpando histórias por vários narradores anônimos que vieram a se transformar na coletânea “Na Fumaça do Trem”, compondo um acervo infindável que hoje gira por volta de 620 episódios com apenas ¼ publicado.
Como podem observar este certamente foi o motivo da paixão pelos trens, a ponto de optar por São Lourenço para viver; há 16 anos, após o retorno através da ferrovia (ABPF) Associação Brasileira de Preservação Ferroviária, onde venho curtindo minhas viagens pelo Trem das Águas e em Passa Quatro no Trem da Serra. Sem o que, quando posso, o trem de Tiradentes a São João del Rey e outros tantos pelo sul o Brasil... Não sei se consegui me expressar, inteiramente, desta forma sucinta o motivo da minha fixação pelos trens, prioritariamente pelos a vapor, no caso a lendária Maria Fumaça.
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