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Terça-feira, 14 de Janeiro de 2025
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Um passado ainda presente

O Lusitano Anselmo...

José Luiz Ayres
Por José Luiz Ayres
Um passado ainda presente
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Um passado ainda presente

 

Seu Anselmo, um topógrafo que conheci durante a viagem de ônibus a São Lourenço - cidadão naturalizado brasileiro de origem portuguesa vivendo há 55 anos no Brasil – que se pôs  a solicitar-me informações sobre a cidade que há quase 30 anos não visitava. Contou-me que ao tomar conhecimento do Trem das Águas, aguçou à vontade em vir conhecê-lo e rever São Lourenço de saudosas lembranças. Depois de algum tempo de conversa, revelou que quando chegou ao Brasil, ainda jovem, recém-formado como técnico em topografia, ávido em exercer a sua profissão, empregou-se numa empresa de engenharia, cujo campo de ação era na área ferroviária. Recordava-se, que foi determinado a prestar seus serviços em Minas Gerais, tendo a sua base à cidade Juiz de Fora. Recém-chegado, sem conhecer até mesmo como chegar à padaria de seu tio onde passou a residir no Rio de Janeiro. Não teve jeito e encarou o desconhecido, cujo conhecimento cultural limitava-se aos poucos ensinamentos auferidos nos bancos escolares portugueses, que na época restringia-se ao Rio de Janeiro, capital, São Paulo e só. Foram 14 anos de Juiz de Fora a percorrer dezenas de municípios estendendo ramais ferroviários e assentando trilhos nesse admirável estado de topografia bem acidentada e complicada, em que assentar trilhos e dormentes requeriam bastante técnica e bestunto. Mas como disse, sem modéstia, entendia bem do riscado, mesmo sem entender da nossa topografia.

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            Reportando-se ao passado, a aflorar emoções pelos tempos vividos em passagens marcantes com narrativas que prendiam  atenção, entre as discorridas, uma notabilizou-se pela absurdez, que na época se fazia comum entre os "os coronéis", pois ignoravam as punições que estariam passíveis, pelo suposto poder através do dinheiro e do autoritarismo, muito comum nas décadas passadas.

Certa ocasião fora destinado a levantar o trecho de um novo traçado no percurso do leito ferroviário entre Três Corações e São Tomé, pois o que estava em serviço dado aos constantes desbarrancamentos, Era vista pela RMV como local de risco. Executando a tarefa topográfica da área prevista ao novo traçado, foi surpreendido com a visita de um cidadão, dizendo-se fazendeiro, que lhe pagaria uma boa quantia se fizesse o trem passar no interior de sua propriedade. Declinando da oferta, mesmo sendo a proposta tentadora, continuou seu trabalho. Foram dias de insistência e cada vez mais a proposta subia de valor. Tempos depois com a conclusão da obra, no dia da inauguração do trecho, com o Staff da RMV presente, autoridades municipais e políticos que puxados pela locomotiva 235 de Três Corações, acomodavam-se a um vagão especial visando o local da cerimônia e são surpreendidos com a parada do trem, já em meio ao trecho novo. De súbito, o maquinista se chega dizendo que não poderia continuar o trajeto, pois desconfiava que houvesse um desnivelamento bem acentuado entre o trilho da direita e o da esquerda na entrada da curva. Anselmo foi solicitado a proceder à verificação e de fato havia um desnível de 8º e o risco de acidente era inevitável no que ocasionou o retorno da composição de ré a Três Corações.

Aquele problema grave fez com que se apurasse a responsabilidade e, lamentavelmente sobrou para Anselmo, embora tivesse certeza de haver feito seu trabalho correto, pois sempre se portou como um profissional digno, e não poderia imaginar que tal coisa ocorresse, já que possuía um conceito técnico de um valor inegável pela construtora que operava.  Levantada à área, sobre suspeita, a equipe de engenharia constatou que houve sabotagem. Pois foram removidos alguns metros cúbicos de terra num trecho do subsolo, que dado a gravidade e o peso da linha, cedeu consideravelmente, evidente com mais o peso das composições; seria fatal o desbarrancamento e o consequente desastre. Ficou a pergunta: Quem seria capaz de praticar tal crime?

Lembrando-se daquele fazendeiro, Anselmo contou a direção da empresa o ocorrido, levando a direção da rede para abertura de inquérito, já que a empresa eximiu-se da responsabilidade. O caso foi abafado por "intercessão" política e a pobre e deficitária RMV teve de arcar com os prejuízos e com o seu pessoal da manutenção reparando a linha naquele ato praticado por um ganancioso e inescrupuloso fazendeiro. Como pode se ver, a propina já era praticada há muitos anos  e teve e tem os “propinadores” em evidência sem nada sofrerem por suas criminosas ações...

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José Luiz Ayres

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