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Terça-feira, 11 de Fevereiro de 2025
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Uma carona mal sucedida...

Vivendo e aprendendo...

José Luiz Ayres
Por José Luiz Ayres
Uma carona mal sucedida...
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Uma carona mal sucedida

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Certa feita, lá estava eu à rodoviária de São Lourenço, aguardando o ônibus urbano que me levaria ao centro da cidade,  -  hoje não mais existe este tipo de locomoção a não ser os taxis,  - quando sou abordado por um casal que ali se chegara, solicitando informações em como atingir ao centro; mais precisamente à estação ferroviária, já que possuía reservas num hotel próximo e lhe fora dado como referência a praça da estação, após desembarcar na rodoviária.

 

 

 Prestando-lhe o atendimento, o cidadão; seu Antenor, como se identificou, após me agradecer, pôs-se a conversar a se dizer admirado pelo progresso da cidade, que há mais de 25 anos não retornava e agora impulsionado pelo trem Maria Fumaça, onde um amigo que aqui esteve o mostrou as fotos, desfrutando do passeio férreo no percurso de 20 km em ida e volta até a cidade de Soledade de Minas que o levou a aqui estar, fazendo crescer o desejo em vir e poder curtir uma viagem no tempo, vez que este prazer quase esquecido o fará recorda-se da sua puberdade vivida em Paty do Alferes, RJ, onde tinha no trem diariamente seu transporte a conduzi-lo a escola em Miguel Pereira.

 

 

            Entre as prosas discorridas durante o percurso,  contou que numa oportunidade, se viu em situação complicada a deixá-lo apavorado e só atribuiu o ocorrido como um castigo pelas estripulias que praticava nas estações e nos trens. Useiro e vezeiro em ludibriar os chefes de estações e de trens, tinham por habito não pagar passagens se acoitando nos toaletes, varandas e muitas das vezes sobre a carvoaria da máquina.   

 

 

            Numa ocasião, aproveitou-se de um cargueiro que em Paty de Alferes parou no intuito de tracionar um vagão com caixas de tomates e couve-flor e o fez como opção em viajar a Miguel Pereira. Na plataforma a apreciar a operação de acoplagem do vagão ao comboio, observou à possibilidade de se introduzir num deles e notou que o último, matinha a porta entreaberta. Pulando ao leito, caminhou até o vagão e posicionando-se ali  ficou à expectativa, quando soou o silvo liberando o cargueiro e logo a seguir ecoou o apito da locomotiva dando a partida. Antenor safo como dizia ser, penetrou agilmente no vagão, com o comboio a se movimentar. Na pouca luminosidade incidente no interior do carro, no que pese a outra porta também permanecesse entreaberta, sentou-se a um caixote e ficou a relaxar sobre o balanço do trem.

 

 

 Todavia, não tardou, passou a sentir um forte cheiro de algo como estivesse podre. Colocando a mão ao nariz, tentou amenizar o fétido odor nauseante, mas não adiantou, era muito sufocante a ponto de lhe causar ânsias de vômitos. Elevando-se do caixote, caminhou até a porta e passou a respirar pela abertura e ali permaneceu. Afinal o trajeto até Miguel Pereira era só de 6 km, o que daria para suportar o cheiro podre que empesteava o vagão. Só que ao se aproximar da estação; onde por obrigatoriedade os trens têm ordens a apitar e desacelerar objetivando a parada, Antenor observa que tal fato não estava ocorrendo nestes procedimentos e começava a se preocupar. Ao entrar à reta que antecede a estação, por fim há a redução da velocidade o que fez o pobre Antenor se aliviar da apreensão. Entretanto, na aproximação da estação, observa a bandeirola verde sendo agitada pelo chefe de estação e escuta o som estridente pela cancela fechada a dar prioridade ao trem em cruzar a via urbana. Assustando-se, tomado pelo desespero, pois o comboio não faria parada, cruzou a cidade e lá foi em direção a descer a serra Azul sem conhecer o destino final da aventura, a também passar batido pelo entroncamento de Governador Portella sem que houvesse parado.

 

 

            Dentro do vagão, quase asfixiado pelo odor insuportável, onde suas vias nasais já saturadas não mais conseguiam respirar tal o mau-cheiro ali confinado, como último recurso após vários vômitos efetuados, seguidos de fortes dores de cabeça e abdominais pelo esforço provocado pela constante ânsia estomacal, apelou a se deitar ao chão, pondo a cabeça para fora do vagão na tentativa de respirar com menos odor. E assim o jovem safo Antenor desceu a serra passando pelas localidades existentes para finalmente chegar a estação de Conrado, onde o trem à linha de apoio fui desviado e parou a dar passagem ao expresso Paraíba do Sul que viria no sentido contrário.

 

 

            Deixando o vagão levando sua pasta escolar, bastante debilitado a cambalear-se sobre o pedregal do leito, trôpego se chega à plataforma e pede auxilio ao chefe da estação após revelar sua drástica aventura. Ao ouvir sua história, o homem penalizado permite que retorne pelo expresso Paraíba do Sul, que logo aportaria a estação, mas acomodado no último carro da 2ª classe. Assim mesmo desde que não houvesse reclamações dos passageiros, pois seu estado era terrível e lamentavelmente apresentava-se fedendo, já que o uniforme escolar havia se impregnado pela água fétida contendo resíduos de gordura e de sangue que escorriam dos caixotes que transportavam ossos e carnes em decomposição oriundas de matadouros destinados a indústria de fertilizantes agrícolas no Rio de Janeiro. Conformado, debaixo de enorme vergonha, assim que o expresso aportou, dirigiu-se ao último vagão e permaneceu sentado ao chão da varanda. Com o trem em movimento a subir a serra, ficou a pensar como engendrar  desculpa que daria ao chegar em casa naquele estado deplorável e antes da hora habitual de regresso da escola.

 

           

Deste modo, Antenor contou sua desventura e a partir de então nunca mais se utilizou de cargueiros, pois caronas só nos trens de passageiros! Ao entrarmos na praça da estação, dei o sinal de parar, pois era a hora de saltar e seguir até o hotel onde fora destinado...

 

 

Agradecendo-me pelas informações prestadas, deixou o ônibus e logo a seguir apontando à sua direita, sorrindo, mostrou o seu hotel a deixar um aceno o qual interpretei como aceito na informação...

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