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Terça-feira, 14 de Janeiro de 2025
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Vicente uma ficção real

O jornaleiro ferroviário...

José Luiz Ayres
Por José Luiz Ayres
Vicente uma ficção real
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Vicente, uma ficção real.

 

   Miguel como já tive a oportunidade em descrevê-lo, foi um saudoso chefe de trens da RMV (Rede Mineira de Viação) que por longos anos operou no ramal férreo sul-mineiro de Cruzeiro (SP) a São Gonçalo do Sapucaí (MG). Entre as enes histórias narradas, onde os personagens envolvidos marcaram passagens, as quais dentro do contexto ferroviário merecem citações; às vezes humorosas, às vezes dramáticas, recordo-me de um personagem; Vicente, que teve ao lado de Miguel um convívio bem ativo, pois era o homem que mantinha os interioranos bem informados e, portanto, o responsável direto a trazer as notícias e informações através dos jornais da capital, já que como jornaleiro tinha a incumbência na como  entrega desses periódicos às cidades. Vicente, também carinhosamente conhecido como carcamano por ter origem italiana, era uma pessoa extremamente simpática e alegre, não poupando ajuda a quem fosse estando sempre solícito a atender a todos. Seu trabalho consistia em receber os jornais e revistas provenientes da capital trazidos pelo trem Vera Cruz, onde em Cruzeiro eram separadas em amarrados à distribuição as cidades. Além desta tarefa, tinha os leitores que às estações os aguardava, ou mesmo os exemplares lançados do trem às fazendas margeantes a via férrea ao longo do percurso. Esta labuta diária fazia com que Vicente cada vez mais se tornasse popular junto às estações e seus munícipes. Fizesse chuva ou sol, lá estava executando sua tarefa em fazer chegar notícias, no que pesem muitas cidades com um dia de atraso, fato evidentemente na época aceitável. Afinal o trem sul-mineiro partia de Cruzeiro às 14 hs e chegava a São Gonçalo por volta das 20 hs; quando não haviam contratempo em atrasá-lo. Pernoitando em São Gonçalo, retornava à cidade de Cruzeiro pelo expresso das 4,30 hs.

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   Um dia Miguel surpreendeu-se com ausência do carcamano na madrugada. O que o deixou preocupado. Mas mesmo assim receberam dos compradores dos jornais as importâncias referentes às vendas efetuadas do dia anterior.. Só que aquele desaparecimento alongando-se por vários dias, além de preocupante, transformou-se em mistério e tristeza, já que não havia informações sobre o paradeiro do amigo, e sua morte era dada como certa. Os jornais e revistas acumulavam-se à estação, a ponto da Rede solicitar da distribuidora na capital suspender as remessas.

   Com quase um mês, assustando a todos na estação, com o auxilio de muletas, desembarcou do Vera Cruz; Vicente . Ainda bem debilitado, mais magro do que era, é abraçado e saudado por todos e  narra o que aconteceu. Fora vítima de grave acidente rodoviário à Rio - São Paulo e dado ao seu estado crítico foi levado para o hospital em Resende (RJ), onde socorrido, fora transferido à capital, pois seu caso necessitava de atendimento urgente em hospital provido de recursos mais abrangentes. Com a perda dos documentos e os parentes no Rio de Janeiro acostumados a não ter notícias com frequência e  permanecendo em coma, acabou sendo cuidado no hospital como um indigente incógnito cidadão. Posteriormente, saindo do coma aos poucos, se recuperou da amnésia parcial e pode, com esforço, identificar-se e voltar à vida.

   Mesmo com dificuldades, voltava às atividades recebendo carinho e apoio dos amigos e companheiros da ferrovia e, obviamente de Miguel, que colocou um de seus condutores a suprir, até a suspensão da remessa dos jornais pelo distribuidor, levando a diante a tarefa do bem informar ao povo interiorano com as notícias, os acontecimentos importantes da atualidade através dos periódicos do dia-a-dia, que tão bem vinha sendo por anos a fios, levado por aquele abnegado carcamano chamado e eternizado Vicente.

   Este episódio veio mostrar, o quanto o trem e seus funcionários, e aliados “desbravadores”, ajudaram a expandir o progresso do Brasil quando as comunicações ainda engatinhavam, tendo nos jornais e revista os principais veículos de comunicações, notadamente a nós, os “caipiras” chamados de interioranos! Afinal, o telefone era por manivela a chamar pela telefonista e aguardar; Rádio dependia de locais a receber as ondas; TV só se fosse às janelas dos trens e Internet, só nas histórias em quadrinhos de Flash Gordon, lendário interestrelar e heroico personagem de ficção.

  E assim, o velho Vicente depois de 12 anos, após aposentar-se, deixou aquele povo interiorano e os amigos ferroviários a saudade eterna   pelos anos ali vividos diuturnamente, a contribuir grandemente ao progresso daquela gente mineira... Trazendo as notícias da capital pelos jornais e revistas. A exceção foi os dias que permaneceram afastados pelo grave acidente que sofreu

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