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Domingo, 08 de Dezembro de 2024
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ZAP um milagre ou instinto ?

Um companheiro fiel

José Luiz Ayres
Por José Luiz Ayres
ZAP um milagre ou instinto ?
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Zap; um milagre ou instinto?

 

Àquela manhã chuvosa e pouco convidativa a minha caminhada, resolvi, rever no intuito de efetuar uma higienização em alguns dos meus guardados, onde ainda conservo o material escolar os quais; como relíquias, os tenho delicadamente preservado por décadas, como: primeira cartilha, cadernos, cadernos de caligrafia, tabuadas, cardenetas escolares, enfim, toda parafernália da escola primaria e outros tantos livros, quando observei ao fundo da caixa, o livro Poesias Infantis de Olavo Bilac, que por sinal o predileto e o que mais me utilizava, pois gostava de lê-lo às horas de descanso. Retirando-o, a limpá-lo, no que passei a folheá-lo, caiu um papelucho, o qual apanhei e li o que eu havia escrito à data de maio de 1991. Continha uma anotação onde fiz alusão a um episódio, contado pelo saudoso amigo Mons. Barbosa, cujo conteúdo dizia a respeito de um cão, de nome Zap, à cidade de Parapeuna, RJ, o qual se assemelha com a poesia de Olavo Bilac; O plutão. Confesso que tal episódio, foi esquecido e não o transformei em crônica, como habitualmente procedo. Todavia, recordando-me da narrativa passo a contá-lo.

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               Dizia Mons. Barbosa, que havia à estação férrea de Parapeuna, um belo cão de porte médio; vira lata como são conhecidos esses animais forasteiros de rua, de pelagem assemelhada a um pastor, que dado o carinho dispensado, principalmente pelo chefe da estação; seu João, que pela simpatia, afeição dada à estima, passou a cuidá-lo, dando-lhe as suas rações diárias, banhos e escovações do pelo, num tratamento digno a um animal, que adotado, incomparou-se à vida da estação, tendo até uma casinhola construída por seu João, localizada ao lado do prédio, onde se alojava após a passagem do último trem e, receber do chefe, seus afagos e ração ao deixar a estação encerrando o dia.

               Este animal, embora pudesse assustar a quem não o conhecesse; pelo seu porte físico, era muito dócil a ponto de ter junto a criançada, seu amor pela atenção que recebia, através dos afagos e carícias oferecidas diurnamente, a apresentá-lo com as guloseimas,  a mostrar-se sempre disposto junto a elas. Bastava chamá-lo pelo nome, que aparecia abanando o rabo, a erguer sua pata como um cumprimento. Não existia na cidade quem não o admirasse e não gostasse de Zap. Sua alegria maior se fazia presente, quando às 5 horas de manhã, sentia pelo faro, a presença do chefe João caminhando à rua e se por a correr até o portão da estação, onde se posicionava à sua espera. Essa rotina já acontecia por vários anos e cada vez mais Zap  se apegava ao seu dono e amigo. Inclusive até pelo procedimento em que eventualmente, João estivesse aborrecido, Zap também passava a ficar diferente e recolhia-se a sua casinhola  só a deixando-a, se João o chamasse ou assobiasse com seus dois assobios breves e um longo.

               Até que num entardecer, após despachar o último trem, um cargueiro procedente de Santa Isabel, que ali se chegou a tracionar um vagão carregado de sacas de milho e feijão que aguardava. Ao retornar à administração, João,  depois de encerrar as operações do dia, com a mensagem telegráfica da partida do cargueiro, fecha a porta e, ao pisar à plataforma, nota a ausência de Zap à soleira, no  que estranhou e efetua seus assobios. Como não apareceu, foi até a casinhola e não o encontrou. Seguindo à direção do armazém, procurando-o, não o viu. Quando de súbito, se esbarrou com um dos arrumadores a indagá-lo sobre Zap. O servidor limitou-se a dizer, que o havia visto perseguindo uma ratazana, que correndo, deixou o armazém. Estranhando à atitude do cão, atribui que a perseguição ao roedor, fazia parte do seu instinto animal. De volta, caminhou a porta da estação, embora um tanto preocupado, afinal foi à primeira vez, em vários anos, que tal fato ocorreu, trancou-a e seguiu à direção de sua casa.

               Na manhã seguinte, a preocupação o tomou por inteiro, pois Zap não veio recebê-lo como de hábito. Foram dias de tristezas na estação, com o chefe João, amuado, triste em total estado depressivo, a passar horas de olhar absorto e perdido ao horizonte com a fisionomia fechada. Era como estivesse perdido um ente querido ou um grande amigo.

               Já com quase 10 dias do desaparecimento, quando ao chegar a dar início à labuta diária, e caminhar pela plataforma em direção a sua sala, vê à soleira da porta, sob a penumbra do dia que começava amanhecer, Zap deitado. Apressado, chega-se e abaixa a acariciar o amigo fiel, sem que pudesse conter às lagrimas que escorriam à face e é surpreendido pelos sussurros em fracos ganidos de Zap, ao abrir seus olhos e lamber sua mão. Pegando-o nos braços, o levou a sala onde lhe deu água e alguns biscoitos, no que os devorou. Cobrindo-o com um cobertor, o colocou sobre o sofá. Com dois dias, Zap, embora debilitado, magro com suas ancas pontiagudas se sobressaindo sobre uma pelagem suja, sai à plataforma acompanhando seu amigo João.

               Seu desaparecimento presume-se, deveu-se ao penetrar no vagão perseguindo aquela ratazana, pois segundo Mons. Barbosa, foi enxotado do vagão, ao ser surpreendido por um conferente ao abri-lo. Quanto ao retorno a Parapeuna, há quase 80 km de Barra do Pirai, só Deus pode explicar e nos revelar este milagre! Palavras de Monsenhor Barbosa, que vivenciou este belo e comovente episódio.

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José Luiz Ayres

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