Zarco, o grego ignomioso
Entre a infinidade de anônimos personagens que vêem contribuir para compor a nossa coletânea de episódios, os quais procuram descrevê-los baseados em narrativas apresentadas por aqueles que de certa forma vivenciaram ou tem origem por parentes ou amigos, a repassarem casos em cujo trem se notabiliza, não posso deixar de contar sobre um cidadão de procedência grega, cujo nome era Zarco, que também teve sua passagem “importante” na era das ferrovias, onde na década de 30, caracterizou-se por ser; dizia-se, um arqueólogo, um fossilista, a buscar neste estado, material fossilizado.
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Este cidadão, de acordo com meu pai Luiz, vivia a percorrer pelos trens as localidades mineiras, onde costumava apresentar seus “achados”, o qual negociava juntas as pessoas interessadas na aquisição, após se cientificarem por Zarco que tais peças eram pré-históricas e o valor histórico muito representava. Só que para a maioria das pessoas, o grego não passava de um espertalhão a tentar ludibriar os incautos com seus ditos conhecimentos jurássicos; como não bastasse seu linguajar um tanto complicado pelo português expressado.
Numa ocasião, Luiz ao deixar o trem à cidade de São João Del Rey, depara-se com Zarco a expor seus fósseis na estação, circundado por um grande grupo de curiosos a escutar sua “palestra”. O conhecendo de vários lugares, resolveu então parar no caminhar e se pôs a apreciar suas peças expostas sobre uma manta. Porém um tanto curioso, espantou-se em observar encravado sobre uma pedra dita como pedra de san tomé um fóssil que parecia uma centopeia. Indagando de Zarco que animal era aquele, o respondeu que era uma lacaria e que ali se fossilizou ha mais ou menos um milhão de anos. O animal pelo tamanho deveria ter uns 40cm de comprimento com dezenas de pernas de cada lado. Passando a pedra as mãos de Luiz, cujo peso era bem expressivo, o perguntou quanto custava. Coçando a cabeça, meneou um tanto pensativo e falou: Duzentos e cinquenta mil réis. Assustado, Luiz retrucou a dizer não valia o que pedia e a devolveu. O grego vendo o interesse, disse que faria por cento e cinquenta. Luiz dando as costas seguiu seu caminho.
Dias depois, ao terminar suas visitas comerciais, em caminho a estação férrea, é surpreendido por um senhor sentado ao banco da estação, que o acena solicitando sua presença. Chegando-se a ele, que o cumprimenta, indaga que o havia se interessado por uma peça exposta pelo grego, mas dado ao preço exagerado, desistiu. Eu faço aquele tipo de fóssil e se quiser um vendo por trinta mil réis. O preço que ele me paga. Luiz se sentindo um idiota disse que não, apenas achou o trabalho bem feito artisticamente e bem trabalhado, parecendo de fato um fóssil pelo acabamento dado a peça.
Com a chegada do trem, embarcou e lá foi Luiz a pensar que quase fora vítima de um grego espertalhão em pleno território brasileiro...
O tempo passou, os dias correram e quando deixava a estação Dom Pedro Segundo, posteriormente Central do Brasil, ao galgar os degraus de acesso a rua, eis a surpresa. Lá estava aquele grego ignamioso a vender seus produtos aos incautos que a ele se chegavam... Ao passar a sua frente, o olhei e ao ver as suas pedras em uma pequena bancada sendo cobiçadas por algumas pessoas até um tanto deslumbradas, pensei comigo mesmo. Pois é eu também quase fui vítima deste grego safado... Mas como diz, o mundo é dos vivos!
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