*Por José Luiz Ayres
Durante décadas, devido a precariedade do transporte e na logística com relação à comercialização dos produtores rurais aos grandes centros urbanos, cujo abastecimento à maior parte provinha dos sitiantes que viviam de suas roças, foram criadas por algumas prefeituras, um espaço a centralizar estas produções no intuito de amenizar as dificuldades às negociações dos seus produtos com os compradores (atravessadores), oriundos da Capital Federal que ali se chegavam em seus próprios caminhões.
Esses agricultores traziam de suas roças, através de carroças, as mercadorias até as ditas centrais, onde permanecia à espera dos atravessadores. Em Paty do Alferes foi uma destas centrais, distante a quase 150 km da Capital, que ocorria todas as segunda, quartas, e sextas-feiras ao início das madrugadas. Estes produtos na sua essência eram horticultura, granjeiros e outros como: doces em geral, mel, queijos artesanais, manteigas, e tantos mais também apreciados.
O primeiro comboio procedente de Paraiba do Sul, RJ, chegava a Paty às 05,25 hs com destino ao Rio de Janeiro, puxando seus seis vagões de passageiros a permanecer entre os embarques e desembarques pouco menos de 10 minutos. Existia um cidadão, conhecido como Zé Antão, sitiante às cercanias da localidade de Andrade Pinto, que conseguiu a muito conversar com o inspetor chefe da regional daquele ramal férreo, permissão para atrelar ao último vagão do expresso, a leva-lo a reboque, um trole construído por ele com finalidade do transporte de seus produtos sobre sua responsabilidade e não transportar pessoas e animais vivos. E assim Antão foi levando suas mercadorias sem nenhuma preocupação, quando numa madrugada chuvosa, ao deixar a estação de Andrade Pinto, ainda madrugada alta, tomado por alguma sonolência de uma noite mal dormida, sentado à varanda do último vagão como estava acostumado, desperto abruptamente, esfregando os olhos diante da escuridão e o sacolejar do trem, observa que as luzes do lampião colocado na sua engenhoca não estava presente. Assustado, em total desespero, chega à estação de Avelar e em disparada segue pelos trilhos à cata de seu trole a tropeçar pelos dormentes e o pedregal da linha férrea. Cansado e estropiado, com o dia a clarear, após longa caminhada ao final da reta, visualiza a margem dos trilhos o que parecia ser sua gerigonça. No que se aproximou, lá estava pedaços do seu trole e espalhado ao longo do leito por quase 50 m, sua carga de tomates inutilizada como as 15 caixas de madeiras que levavam a mercadoria.
Desesperado, a lamentar pelo prejuízo, pôs-se a catar os frutos em bom estado a colocá-los nas caixas que resistiram ao acidente, que apenas conseguiu aproveitar três das 15 da totalidade e ser ajudado por um sitiante que se penalizou do seu drama e o ajudou a transportá-las até sua roça numa charrete.
Moral da história : A partir de então, Zé Antão voltou seguir a sua sina, da velha carroça, ainda por vários meses, até adquirir com muito sacrifício e debaixo de muita labuta uma velha pick-up a conseguir transportar seus produtos até a Ceasa no Rio de Janeiro onde os negociava sem a presença do atravessador e sob o preço justo. Mesmo tendo algumas vezes enguiço no percurso, afinal o veículo já estava bem desgastado, conseguiu adquirir um pequeno caminhão, que segundo seu Ferreira, o aposentado da extinta ferrovia, permaneceu na sua vida enquanto viveu nesta atividade agrícola e que posteriormente veio a formar juntos a outros pequenos agricultores, uma associação pelo sistema de cooperativismo, tornando-se por aclamação o presidente, o qual seria o responsável direto pela comercialização dos produtos em venda direta ao Ceasa no Rio de Janeiro, em que a figura do atravessador se escafedeu, dada a pujança, perseverança e vontade pela sua persistência...
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