Zéfiro e Estael; o destino se fez!
Após a partida do trem das Águas para mais um passeio turístico em São Lourenço à cidade de Soledade de Minas, onde em seus vagões repletos de turistas; aquela manhã, como sempre ocorre, fazendo com que o ambiente festivo, incentivado pelos descontraídos e extrovertidos passageiros, a tornar-se bem alegre o momento, sob os apitos característicos da lendária Maria-Fumaça, que lentamente se desloca à frente da plataforma tracionando o comboio, sob olhares daqueles que ali permaneceram, a acenar, quando espavorido se chega um “bem vivido” cidadão e fica a olhar o trem, que já distante a apitar insistente, vai deixando a área da estação a cruzar a passagem de nível com a via pública. Virando-se a mim, faz um comentário, o qual não compreendi, pois os alaridos dos que deixavam o local e os apitos do trem me ensurdeciam.
De olhar fixo ao leito, talvez perdido no tempo, em cuja plataforma poucas pessoas ainda se encontravam, vira-se a mim novamente, com os olhos lacrimejantes e num possível desabafo, proferiu: - O senhor crer em destino? Pois eu a partir de agora, passei a crer, pelo que vem ocorrendo na minha vida e o senhor será a testemunha no meu destino. Perplexo e um tanto confuso, o indaguei o porquê desta missão.
Sentados num dos bancos da plataforma, seu Zéfiro, como se deu a conhecer, pôs-se a contar sua sina, como disse, e eu a ouvi-lo debaixo daquela estranha e lamuriosa conduta um tanto emotiva.
Dizia, que aos 20 anos, operando como telegrafista dos correios e telégrafos à cidade de Ubá, conheceu uma jovem e bela mulher de nome Estael, que enamorados fizeram juras de amor, tal a abrupta paixão crescente. Até que seis meses de intenso romance, um torturante contratempo desabou sobre eles. Estael ia deixar a cidade para viver em Juiz de Fora.
Aquela notícia bombástica foi terrível, já que Zéfiro como servidor público, não tinha possibilidade de uma transferência e, dada a distância, tornar-se-ia difícil sua locomoção em vê-la. Triste, amargurado, sem ter uma solução alentadora, que pudesse proporcionar uma esperança, vez que sua amada também entristecida, tomada pelo amor, quase em desespero, vinha propondo que deixasse os correios e seguisse a Juiz de Fora e iniciasse uma nova vida. Diante do pedido, fez com que Zéfiro, num rompante emocional aceitasse a sugestão e os dois partiriam no dia determinado. Só que no dia da partida a promessa não foi cumprida! Estael partiu sem seu amado. Em total depressão, Zéfiro em cuja consciência pesava o enorme tormento de ter abandonado sua amada e fustigado incessantemente pelo ato vergonhoso praticado e ser torturado pelo que praticou, levado na sua paixão, tentou reatar, através de uma reconciliação dois meses depois, o que obviamente foi rejeitado pela ex-amada, curvando-se as tramas do destino.
Hoje, aqui na estação de São Lourenço, há quatro dias quando visitava o logradouro, quis o destino, talvez, que encontrasse Estael depois de 38 anos, onde puderam conversar e recordar dos tempos de Ubá, após as infindáveis lembranças, de um grande amor por eles vividos e, mais uma vez, se desculpou, por não haver cumprido seu papel de amado tão sonhado, não embarcando a Juiz de Fora.
Porém, um fato interessante surgiu, quando a revelou que se encontrava em plena viuvez há 8 meses. Claro que Zéfiro se encheu de esperanças, ao ver à possibilidade de unir-se a Estael, já que também viúvo, nada impediria em casarem-se. Afinal, havia sido perdoado pelo ato insano de um jovem no passado. Naquele encontro, resolveu propor a ela casamento em plena estação. Estael, sorrindo, mostrando-se um tanto arredia e segura de si, reticente, pediu um tempo a pensar. Na manhã seguinte, quis o destino que se encontrassem no Parque das Águas, onde ansioso, Zéfiro, procurou obter a resposta. Sorrindo, educadamente, a viúva para deixá-lo mais ansioso, diz que só daria resposta durante o encontro no Trem das Águas na manhã de sábado, onde o aguardaria por uma verdadeira prova de amor, como há 40 anos foi proposto, que partiriam rumo a uma vida conjunta e ele não apareceu!
Daí o desespero por perder o trem, e ali agora angustiado, apelava aos meus sentimentos humanitários no intuito de ajudá-lo de alguma maneira. Penalizado, deixamos a estação e conduzindo-o no meu automóvel, o levei até Soledade, onde à plataforma da estação, ficamos aguardando o comboio, que tempos depois cruza a plataforma, sob olhar angustiante, mas esperançoso de Zéfiro. De olhar fixo, vendo o trem executar sua manobra, com o comboio, finalmente se chegar à plataforma, em que os passageiros começam a descer, Estael aponta na escada e desce do vagão 3, onde atônita, se assusta com a presença de Zéfiro, que a abraça pedindo desculpas por ter atrasado ao embarque, a lhe mostrar a passagem. Dirigindo-se a mim, que os observava, o casal se chega, com Zéfiro a me apresenta - lá e agradecer por tudo e, dizer a Estael, que eu fui o “cúpido” pela união de suas vidas, sendo o parceiro do destino, cujo trem foi preponderante na nova vida de Zéfiro e Estael...
Com pouco mais de um mês, recebi um telegrama do seu Zéfiro, me convidando, para ser um dos padrinhos da união de suas vidas, na cidade de Juiz de Fora, onde serão realizadas suas bodas, no dia marcado exposto no belo convite por ele enviado. Claro que aceitei, e no dia previsto, lá estava eu e minha senhora, na igreja para fazer parte da bela história de amor de Zéfiro e Estael...
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